Trumbo: A Lista Negra/California Filmes/Divulgação |
A Arte Como Arma Revolucionária – Trumbo: A Lista Negra
Enquanto as vozes culturais, intelectuais e artísticas
são cunhadas nas universidades equipadas com adornos em suas estantes cheias de
pó da classe média alta e seus mecanismos de manipulação em massa cumprem seu
papel repressor sem nenhum problema, somos jogados e mantidos a margem dessa
sociedade onde não bastando negarem nossos direitos, dão privilégios à essas
tais personas centrais, porém eles preferem não ver neste movimento a criação dos
seus próprios antagonistas. No decorrer da história recente houve um rompimento
entre cultura e educação, contudo, cultura é educação. Hoje tratamos educação
como princípio e depois cultura como consequência ou algo à parte, sempre vista
em segundo plano e sem importância, mas se visamos realmente o desenvolvimento
completo da nossa sociedade, não só pensando nos clichês de hoje, a cultura é a
pauta central para o desenvolvimento humano. Tudo é cultura, e ela é tão
importante assim, pois ela instrui e inclui. A cultura cumpre um papel formador
do indivíduo. Principalmente quando pensamos cultura enquanto arte. Aqui quero
destacar a sétima.
A arte não se encaixa sobre modelos prontos, mas se
esforça por dar uma expressão á necessidade interior do homem, sendo ela sempre
combativa, é vital não somente para o artista, mas para todos os indivíduos,
pois com ela podemos ter uma reconstrução completa e radical da sociedade, porque
é dentro desta relação paradoxal onde é preciso haver uma transformação
cultural para que haja uma transformação social, e uma transformação social
para alcançarmos uma revolução cultural.
A arte deve ser usada, e será, como arma revolucionária.
E esse era o medo do Comitê de Atividades
Antiamericanas do EUA. Esse movimento culminou numa história absurda,
gerando assim o filme Trumbo - Lista
Negra. Trumbo é um drama biográfico dirigido por Jay Roach de
Austin Powers e escrito por John McNamara que, ao que parece, trabalhou
apenas na TV sendo o maior destaque a série The Magicians, o filme é estrelado
pelo indicado ao Oscar, por este filme, Bryan Cranston de Power Rangers e da
maior série de todos os tempos Malcolm in the Middle na película temos
também Helen Mirren de Velozes e Furiosos 8 e Elle Fanning de Como Falar Com
Garotas em Festas e John Goodman de O Grande Lebowski (um dos meus
favoritos).
Ao se recusar cooperar com o Comitê de Atividades
Antiamericanas o roteirista Dalton Trumbo acabou preso e proibido de trabalhar,
mesmo escrevendo as histórias de maior sucesso de sua época, sofre com os
boicotes do governo e com uma série de problemas a partir da perseguição aos
comunistas no EUA.
E isso não foi, nem é um problema exclusivamente dos EUA,
em nosso dia a dia sofremos essa perseguição mesmo de forma velada. Tentam nos
tirar a arte por sua extrema importância, nos marginalizam, e a industrializam.
A indústria montada em torno da cultura, lembrando, nosso objeto de analise é a
sétima arte, é uma artimanha para colocá-la no centro da disputa da luta de
classes, veja, o descrédito da produção nacional frente à produção estrangeira costuma
predominar na discussão cinéfila, “O CINEMA BRASILEIRO É RUIM” é o princípio
para isso, como podemos ver em alguns centros urbanos a elitização das salas de
cinema e a extinção dos cinemas de rua. Em dois mil e dezessete, foram
registrados na Agência Nacional do Cinema (Ancine) trezentos filmes de
longas-metragens, contudo, apenas cento e sessenta foram lançados em salas de
cinema.
Para conhecermos mais daquilo produzido nos grandes
centros e esquecermos o que esta do nosso lado na periferia.
Para não criarmos uma identidade.
Nos marginalizam para não estabelecermos uma identidade de pertencimento.
Cartaz por Chuck |
Acompanhando o filme por suas longas duas horas vemos que a Lista Negra sem
dúvida foi uma passagem vergonhosa para os estadunidenses e, ao caracterizar os
antagonistas como idiotas, uma das maiores provas da estupidez humana, contudo
o grau de simplismo do longa não faz jus ao ganhador de dois Oscars Dalton
Trumbo. Bryan Cranston de fato está bem no papel que compôs, mesmo ignorando
todas as suas contradições e imperfeições. O filme tenta coloca-lo numa máscara
de herói mesmo não se encaixando bem no personagem e na própria figura
real. Mesmo inspirado na biografia “Trumbo”, de Bruce Cook, o filme reduz um episódio complexo a uma luta entre o
bem e o mal, na qual todas as qualidades estão de um lado e os defeitos de
outro são ignorados. Dalton Trumbo ao receber um prêmio no sindicato dos
roteiristas em mil novecentos e setenta disse:
— Quando você olha para trás, com curiosidade
em relação àquele período sombrio, não é bom procurar vilões, heróis, santos ou
demônios, porque não há; há apenas vítimas.
Vítimas de um estado capitalista, utilitário e burguês.
A cultura não é só arte, mas toda e qualquer manifestação
humana, por exemplo a internet, a rede reflete aquilo há nas ruas e, nas redes
e nas ruas há cultura. Livros, filmes e músicas, shows, séries e comidas entre
tantos outros derivados, em sua maioria não nos representam e não nos é
acessível, porém nós podemos fazer por nós e para nós, chamando as pessoas para
consumir, produzir e divulgar, instigar, investir e piratear. Façam!
A arte não se curva.
Devemos evidenciar a nossa luta por nossa identidade numa
guerra que nunca acabou, buscando de fato um tempo de paz que nunca houve. Não
se esquecendo: Se estamos nas redes e nas ruas, temos um acesso mínimo à
cultura, mesmo quando nos é negado apoio a nossa produção cultural e qualquer
outra da qual poderíamos consumir, pois o lucro é o único fim visto por eles. O
filme deixa claro, os financiadores Trumbo não simpatizam com seus ideais,
desejam capitalizar em cima de seu talento. O artista deve sim ganhar dinheiro
e viver para produzir sua arte, mas nunca produzir e viver para ganhar
dinheiro.
Vivendo pela arte e não da arte.
Trumbo não é um filme ruim, mas também não é um bom, é
OK, trago ele pelo registro histórico e para dizer que não podemos deixar de
lado, nos abster da nossa arte, da nossa cultura, mesmo sendo perseguidos,
mesmo nos negando, temos de tomá-la e fazê-la nossa como é de fato,
fortalecendo o desenvolvimento humano e relações internas e externas, pois um
povo sem cultura é um povo sem identidade e a nossa identidade é a luta, firme
pois a vitória é certa.
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