Guerreiros da Virtude/China Film Co-Production Corporation/Divulgação |
Escrito na Lombada da Fita - Guerreiros da Virtude
Dezoito
de julho de dois mil, terça-feira, poderia ser o último dia antes das férias ou
o primeiro depois, mas foi o dia da frase “O que você vai ser quando crescer,
dono de locadora?”, lembro que foi exibido na noite anterior, um filme que
muita gente diz ser um “clássico da Sessão da Tarde”, mas eu nunca
o vi ser exibido nesse horário, a primeira vez que o vi foi na Tela
Quente, onde, antes de assisti-lo até a exaustão, o gravei em VHS logo
após de escrever na lombada da fita:
— 18/07/00 — Guerreiros
da Virtude
Nesse
momento de minha vida estava com dez anos, tomava mais café que um homem de
meia idade e passava muito tempo assistindo filmes, o que perdura até hoje,
assisto aos filmes mais de uma vez e memorizo cada detalhe e foi nos detalhes
que Guerreiros da Virtude me conquistou, logo no inicio nosso protagonista é
sugado para o submundo, onde inicia a sua jornada num Alice no País das
Maravilhas com muito kung fu. Por muito tempo achei que esse filme
fosse australiano, por conta de seus protagonistas serem cangurus, mas eu
estava errado, a terra onde os britânicos brincaram de texanos não criou esse
ótimo filme infantil de pancadaria. Guerreiros da virtude é uma produção
sino-americana de mil novecentos e noventa e sete, ano em que Hong Kong deixa o
império britânico e volta ao “império” chinês e os americanos se esquecem de um
certo caso de assédio sexual, a direção é de Ronny Yu de O Mestre das
Armas, e que já foi citado em nosso podcast
piloto, o roteiro foi escrito por Michael Vickerman e Hugh
Kelley, que parecem não ter feito muita coisa relevante além desta obra prima.
Em Guerreiros da Virtude, Ryan, um garoto com problema na perna tenta se
aproximar do futebol fazendo amizade com o capitão do time, e, por isso ele é
lançado em uma jornada de autoconhecimento num mundo mágico, cheio de perigos e
com cangurus lutando kung fu, é eu disse: CANGURUS LUTANDO KUNG FU,
contra um vilão que parece não saber o que quer apesar de saber o que quer por
debaixo de toda sua atuação exagerada de Angus Macfadyen, contudo, a história
de cada um dos personagens não têm aprofundamento nem mesmo o protagonista Ryan
interpretado por Mario Yedidia; E também apesar do elenco majoritariamente
branco o filme é mais chinês que americano e é isso que faz ele se destacar
entre tantas produções meia boca e descerebradas de hoje.
Quando
cheguei à escola após a exibição do filme eu estava muito animado e pronto pra
falar sobre, já naquela época eu falava demais e não dormia, por isso, quando a
professora me chamou para dar visto no meu caderno, aproveitou e perguntou se
eu havia acompanhado “o filme de ontem" na TV, falamos
bastante sobre “o filme de ontem” e enquanto falávamos ela chamou a próxima da
lista Fernanda Alguma Coisa, que após receber o visto no caderno
saiu dizendo:
— O que você vai ser quando crescer, dono de locadora? Só fala
de filmes!
Cartaz por Chuck |
Eu
não lembro o que falei sobre Guerreiros da Virtude para minha professora e pra
Fernanda, mas hoje eu posso afirmar; A película não é ruim, mas também não é
boa, hoje ela vaga no limbo daqueles filmes que foram massacrados pela critica
sem dó nem piedade e poucos falam a respeito, mas com certeza se assistiu se
divertiu com ele. Guerreiros da Virtude não avança além de um filme genérico de
aventura, mas que pra uma criança pode ser um filme surpreendente com
personagens de muito carisma escondido em baixo de um design radical e
descolado de cangurus guerreiros. Assim, Guerreiros da Virtude não
é tão bom quanto me lembrava, mas ainda dezenove anos depois de tê-lo visto
pela primeira vez, ele continua brega, bonito e bem rápido o que o ajuda a ser
divertido e prender a atenção de crianças e professoras. Nitidamente essa obra
foi feita com todos os envolvidos dando o melhor de si e não tratando crianças
como um público burro, por exemplo, mesmo com estudos apontando que os cangurus
são originários da China o filme não explica o motivo de seus heróis serem
cangurus, o que, lógico, não faz a menor diferença, o que faz a diferença é que
estes animais antropomórficos passam um sentimento, emoção e uma moral dentro
de uma metáfora dentro de uma crisalida velha e anormalmente grande.
Todos
se espantam como eu sempre me lembro dos detalhes das coisas, acho que por eu
desde pequeno escrever e também arquivar as coisas na minha cabeça, lembrei-me
deste filme não por conta do VHS, que já foi apagado há muito
tempo, mas por uma série de associações, lembrei-me de ter duas professoras,
Sonia e Marcia, Marcia era professora de exatas e foi ela que perguntou sobre o
filme, naquele tempo sentávamos em grupos de quatro alunos, mas o meu foi
premiado com cinco e meus amigos eram Mariel, Joaquim, Paulo e Marcos, também
havia um calendário em cima da lousa e eu passava muito tempo tentando contar
qual das letras tinham mais palavras que se iniciavam com cada uma, lembrei-me
dos cheiros, do Pau Brasil que plantamos naquele ano, lembrei-me de tudo de
forma muita boa, como um efeito domino vivenciando vários momentos até chegar à
pequena Fernanda Alguma Coisa de nove anos dizendo para
o Chuck de dez anos se ele gostaria de ser dono de uma
locadora, e isso além de mostrar o poder que as locadoras tinham, mostra também
a inocência de uma criança; No vislumbre de um futuro da perspectiva da
inocência de uma criança, ela não via uma vida adulta sem locadoras como temos
hoje, e esse é o ponto deste texto, acredito que o que faça Guerreiros da
Virtude ser um filme memorável é a inocência em toda a sua construção até o seu
final quando apesar de tudo que nosso diabólico vilão Komodo fez, nossos
protagonistas lhe estendem a mão e dão a ele o perdão dizendo que a sua casa é
junto aos Guerreiros da Virtude.
*
Se curtiu o filme, acesse: Guerreiros da Virtude
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