O Que Você Vai Ser Quando Crescer? - De repente Trinta
Ano
passado presenciei o retorno de Saturno. O retorno de Saturno é visto como “o tempo
de alcançar a vida plena, encarar desafios e responsabilidades”, na verdade, isso
só é o trânsito astrológico do planeta Saturno retornando ao mesmo local do céu
ao qual ocupava no momento do nascimento de uma determinada pessoa, no caso eu.
Apesar de não crer, devo admitir que a frustração me pegou por um momento,
nesse último ano todos os meus planos deram errado, foi frustrante, pensar em
como encarar a decepção é algo que nunca fazemos, e o que dizer da decepção de
Saturno, ao ver a pessoa que me tornei. Um pobre hippie comunista, latino-americano,
sem dinheiro no banco, sem parentes importantes e vindo
do interior, até mesmo pensei se meu eu jovem se orgulharia do que ele
próprio se tornou, mesmo não sendo nada daquilo imaginado por ele.
—
O que você vai ser quando crescer?
Algum
panaca sempre me perguntava quando era criança e eu sempre respondia: Professor,
cineasta ou jornalista. Quando o que eu queria mesmo era ser piloto rebelde de uma X-Wing, ser um cara inteligente picado por uma aranha
radioativa ou uma Paquita, destes
o que realmente não poderia ser é paquita, pois não nasci branco. Quem nunca
pensou como seria a vida adulta? O que estaria fazendo aos trinta, seria um
adulto respeitado, teria viajado todos os continentes, teria um carro legal,
uma casa enorme e, enfim, teria uma profissão descolada.
E enquanto imaginávamos pimba!
De repente TRINTA.
Tal
qual ao filme De Repente Trinta, um exemplo claro desta época sonhadora e
ingênua vivida por nós. No entanto, o filme, apesar de não parecer, tem um
forte teor crítico sobre até onde vamos ou podemos ir para realizar nossos
sonhos, ele é dirigido por Gary Winick de A Menina e o Porquinho e escrito por
Cathy Yuspa de Do Que as Mulheres Gostam (e roteirista da série d'Os Super Patos), no elenco temos
Jennifer Garner de A Justiceira (e de uma das minhas series favoritas da
infância ALIAS: CODINOME PERIGO),
Mark Ruffalo de Ilha do Medo, Judy Greer de Três Reis e Andy Serkis De o Senhor
dos Anéis ( assisti aos três filmes em um cinema de rua a entrada era entre dois
e quatro reais, da pra acreditar que infância louca!).
De
Repente Trinta é um filme simples e não surpreende em nada, basicamente repete
o que outros filmes já fizeram, e fizeram de forma melhor, como Quero Ser
Grande e Sexta-Feira Muito Louca, mas apesar disso o filme diverte e apresenta
um entretenimento de qualidade. Na história seguimos Jenna Rink onde descontente
com sua vida, em seu décimo terceiro aniversário, faz um pedido: Virar adulta.
E de repente, ela acorda com trinta anos de idade.
Cartaz por Chuck |
Aos
trinta anos os quadris se alargam, as dores chegam e se foram anos de uma vida
surfando karmas e DNA onde não vivi muito do que sonhei, mas se eu soubesse
antes o que sei agora faria tudo exatamente igual, tudo o que fiz me trouxe até
aqui e me fez quem sou, e, estou feliz com isso apesar dos pesares, conquistei
muita coisa não só pra mim, mas principalmente para minha família entre bens
materiais e espirituais, entre coisas que temos e perdemos, além de ter vindo
pra São Paulo com cem conto no bolso e hoje tenho casa, amigos e um trampo que
paga as minhas contas, meus vícios e meus lazeres, se bem, vício se enquadra em
lazeres, né?
No
filme vemos Jenna inicialmente assustada, mas ela vai ficando cada vez mais
encantada por ter se tornado o que sempre sonhou ser. Porém, ao tentar
reencontrar Matt, ela descobre ter perdido aquilo que realmente importava. A vida adulta é cheia de artifícios para nos
transformar em adultos mesquinhos, amargos e fúteis, nos afastando de pessoas e
coisas as quais gostamos, a rotina, o trabalho e escolhas mal feitas, se
transformam em um vazio interno. E nesse amontoado de sentimentos o longa-metragem
vem com a aquela clássica metáfora cafona, com a mentalidade de treze anos e
corpo de trinta, a garota passa a tomar as atitudes certas e reverter à
situação adversa, mas apesar de cafona essa metáfora é muito interessante, pois
com trinta anos Jenna deveria estar mais preparada, porém, no filme, a criança
que era é quem faz as coisas certas acontecerem.
Abandonei
a faculdade, e não era jornalismo, abandonei a boemia, por hora apenas, para me
manter com saúde, é como diz a canção “eu ando só, pois só eu sei por aonde vim,
por onde andei, ando só nem sei por que”… Nem mesmo a convicção politica da
adolescência sobreviveu, a anarquia, a doce convicção utópica deu lugar ao comunismo
científico. Por um momento me senti uma decepção, tanto para o meu Eu jovem quanto
para Saturno que me viu nascer anos atrás. O filme apresenta todo esse misto de
sentimentos de forma cômica e revendo pude perceber que escapei disso, uma
vitória, e hoje meu foco é logo iniciar uma graduação que não destrua meu
psicológico como a outra fez, e também hoje apesar de não ser jornalista já
escrevi pra revistas, jornais, blogs, sites e afins, posso não viver da
literatura, mas já publiquei um livro e dirigi um curta-metragem com uns
amigos, não obstante estou voltando à militância política, hoje mais que
necessária.
Já
vislumbrando a crise da meia idade, acredito ter vivido minha vida de forma
boa, essa corrida sem sentido rumo ao nada, a qual eu fiz com estilo até a
metade e quero continuar assim por mais trinta, além, claro, de agradecer a
todos os envolvidos nela, se você leu isso até aqui obrigado e assista ao filme.
Enfim só queria desabafar, espero ter orgulho de mim daqui a trinta anos assistindo
filmes, tendo uma casa legal e vivendo das coisas que a natureza dá!
*
Se curtiu o filme, acesse: De Repente Trinta
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