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2001: Fim do Mundo, Al-Qaeda e um Trailer Banido – Homem-Aranha de Sam Raimi

Homem-Aranha/Sony Pictures/Divulgação
2001: Fim do Mundo, Al-Qaeda e um Trailer Banido – Homem-Aranha de Sam Raimi
Lembro muito bem do período inicial dos anos dois mil, o novo milênio se iniciou com minha família orando pelo possível fim do mundo, logo depois deu meia-noite e um, dois, três e o mundo não acabou. A oração funcionou. Mas, apesar do mundo não ter acabado, uma gestação depois o mundo parou; E mesmo com os esforços de Dona Vera, diretora da escola E.E.P.G. Pedro Sommerhauzer, em explicar o que estava acontecendo para crianças de doze anos, lendas surgiram naquele onze de Setembro, por exemplo por muito tempo o consciente coletivo cunhou a ideia de que a transformação de Goku em Super Sayajin Três foi interrompida pelo Plantão Globo, sendo que Dragon Ball Z nem foi exibido no dia, entretanto não é sobre isso que eu quero falar, quero falar sobre o evento realmente marcante para os jovens naquele fatídico ano:
O TRAILER BANIDO!

O mundo era bem diferente no inicio do século, naquela época a gente ficava sabendo dos filmes que iriam estrear através dos trailers exibidos no inicio dos filmes tanto nos cinemas quanto nos VHS/DVDs e também tínhamos a icônica Revista Set (Gostaria de ter minha Set Especial do Homem-Aranha, ela virava um pôster do Cabeça de Teia). O Homem-Aranha é um dos meus heróis favoritos, lembro até hoje da excitação que senti com meus treze anos ao ir no cinema e de assistir até a exaustão o VHS pirata da película, não atoa, o filme é realmente bom e foi a maior bilheteria de dois mil e dois nos Estados Unidos e a terceira no mundo, Homem-Aranha foi dirigido por Sam Raimi de Arraste-me Para o Inferno, produzido por Ian Bryce de A Ilha e Laura Ziskin de Uma Linda Mulher, com roteiro de David Koepp de A Janela Secreta, o filme adaptada o mais popular personagem da Marvel Comics criado por Steve Ditko e Stan Lee contando com as atuações de Tobey Maguire de Seabiscuit, Kirsten Dunst de Jumanji e Willem Dafoe de Santos Justiceiros. Este filme nos apresenta de forma bem dinâmica a origem do personagem, o desenvolvimento e seu embate não com o vilão, mas com a questão: QUEM EU SOU, o roteiro do filme nos lança numa jornada de desenvolvimento pessoal na busca do entendimento de si partindo da primícia de que com grandes poderes vem grandes responsabilidades, frase esta de Augusto Comte, dita por Stan Lee na Amazing Fantasy #15 em Agosto de sessenta e dois e foi imortalizada na voz de Tio Ben neste filme numa referencia a primeira aparição do personagem nas HQs.
A feitura desta obra é impecável dês de boas atuações, passando pelo som e os efeitos especiais, John Dykstra, o “criador” dos sabres de luz de Star Wars, surpreende, ele conseguiu fazer uma versão cinematográfica do Aranha de maneira muito eficiente, a construção digital dos movimentos garantiu duas indicações ao Oscar Melhores Efeitos Especiais, que envelheceram muito bem, apesar de ser nítido a transição entre o ator e sua animação em CGI.

Se não me falha a memoria em dois mil e um só se falava em fim do mundo, Al-Qaeda e o filme do Homem-Aranha, a Sony Pictures junto a Columbia Pictures lançaram nos cinemas a primeira prévia do filme do escalador de paredes, como já disse eram tempos diferente, a sinopse do filme é simples: Picado por uma aranha geneticamente alterada um jovem brilhante tenta entender que com grandes poderes vem grandes responsabilidades, contudo, não era isso que o teaser nos apresentava, ele mostrava o inimaginável, um filme de Sam Raimi e todos os seus vícios de câmera, ou como alguns dizem “Sua Assinatura”, este teaser ressalta o fato do personagem ser o amigão da vizinhança mostrando sua intima relação com a cidade de New York dando um papel crucial para as Torres Gêmeas, já que a relação entre o cinema e Nova York foi sempre muito estreita e tinha tudo para dar certo, e deu por um tempo, até o refluxo do onze de Setembro.

Cartaz por Chuck

Os transtornos de reorganizar vários filmes se somou á uma nova tendência de produção, que havia sido abordada entre os estúdios de cinema e o governo Bush: Impulsionar a criação de filmes que defendessem a visão oficial sobre os perigos do terrorismo e reafirmar os valores pró-americanos. Ainda bem que Homem-Aranha não caiu nessa, o filme passou por retoques claro, para apagar algumas referencias as torres e o trailer foi banido, retirado de circulação pela Columbia.



Junto a Richard Donner e Jon Favreau, Sam Raimi, conta uma das melhores histórias “de origem”, com uma mistura muito equilibrada entre adaptação e obra original dando um destaque para o vilão canastra e caricato de Willem Dafoe, Raimi é um dos meus favoritos desde que vi Evil Dead, a série Hércules, Shena, Rápidas e Mortais e assim por diante, ele foi sem duvida a escolha perfeita para dirigir esse filme, pois já havia feito Darkman – Vingança Sem Rosto, um ótimo filme de super-herói que fez o caminho inverso: Saiu do cinema e foi para os quadrinhos. As decisões de direção e roteiro foram cruciais para o sucesso do filme, junto a paleta de cor vibrante carregada em vermelho e amarelo evitando os uniformes do herói e vilão sobressaindo de maneira exagerada em relação ao ambiente, o filme não é tão colorido quanto os filmes atuais da Marvel Studios e nem tão escuro quanto os filmes DC do Zack Snyder. Toda a fita acabou com um ar fortemente cartunesco mesmo se distanciando dos quadrinhos, tudo funciona de maneira muito orgânica, nos primeiro vinte e cinco minutos de fita, com o Aranha aparecendo pela primeira vez com o uniforme “oficial” aos cinquenta minutos dos seus cento e vinte e um de projeção. A história se mostra realmente bem estabelecida até mesmo no teaser banido, pois se não fosse uma campanha de marketing funcionaria perfeitamente como um curta-metragem. O teaser banido não era apenas um recorte de cenas do filme como geralmente é, ele tinha uma história com começo, meio e fim, até gosto de dizer que estavam referenciando as tiras de jornais do próprio Homem-Aranha.

Logo depois do atentado as Torres Gêmeas a tendência inicial foi não tocar no assunto até que as feridas cicatrizassem, pouco a pouco foram aparecendo filmes que abordam o tema. Hoje tudo parece muito normal. Mas na época os jornais falaram muito sobre o trailer banido, não me lembro ao certo se no Fantástico ou no Jornal Nacional, mas lembro de ver noticias sobre e ficar com medo de que o filme pudesse não ser lançado, muitos projetos foram cancelados, muitos filmes não foram pro cinema, pode parecer algo mesquinho, mas para uma criança o peso era diferente, por não entender o tamanho da tragédia ficar sem seu herói era o que mais assustava.

Com o teaser tirado de circulação para nunca mais ser visto, até a estreia do filme no ano seguinte eu não consegui ver trailer algum a não ser alguns spots de TV pouco antes da estreia do filme. Sobre o teaser, eu nunca havia visto este famigerado trailer até trinta e um de julho de dois mil e dezenove. O canal de YouTube Yoshi Killer2S publicou um escaneamento digital da película 35 mm original do trailer.
Isto é, só agora, dezoito anos depois de seu banimento, eu pude finalmente assistir este pequeno sopro de genialidade em boa qualidade e a experiência foi muito boa, foi foda! Foi como ser transportado até minha infância, todos os meus pelos se eriçaram e algo prazeroso aqueceu meu coração gelado, rapidamente o trailer funcionou e logo após assisti-lo  voei até o serviço de streaming mais próximo e assisti ao filme também, e foi magnifico, o filme envelheceu de forma charmosa, Homem-Aranha, este neurótico funcional tem mais duas sequencia a partir deste filme, sendo Homem-Aranha #2, sem hipérbole, o melhor filme de herói de todos os tempos, e sobre o #3, bem ele é um pouco abaixo da media, contudo, Homem-Aranha #1 tem um lugar especial em meu coração por conta de sua despretensiosa grandiosidade, pelo momento em que foi lançado e tudo mais, o filme fica melhor cada vez que vejo.
Assistir Homem-Aranha de Sam Rami é como saborear um bom vinho. Experimente.

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Assista ao Trailer Banido
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Se ficou afim de assistir o filme acesse: Homem-Aranha de Sam Raimi
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