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Guerra: Uma Disputa Fálica Para Ver Quem Tem o Maior ꓘ@§3þ& - Doutor Fantástico

 Doutor Fantástico/Columbia Pictures/Divulgação

Guerra: Uma Disputa Fálica Para Ver Quem Tem o Maior Cacete - Doutor Fantástico

Quando a Guerra na Ucrânia começou, tínhamos vinte e oito outros conflitos ativos no mundo, mas qual o motivo dos eventos na Ucrânia tomarem todas as atenções, enquanto os outros não são citados nos jornais? Além da resposta óbvia envolvendo o interesse do Capital, a Guerra da Ucrânia se passa na Europa, despertando assim antigos espectros que a rondam. E sobre estes fantasmas sociólogos, filósofos e historiadores, analistas financeiros, psicanalistas e jornalistas destrincham o tema tentando trazer explicações para os fatos, quando a resposta é bem simples: A GUERRA É FÁLICA.
E quanto maior, melhor.

Ucrânia x Rússia, Somália e Síria, Mianmar, Iêmen e Afeganistão, Iraque, Burkina Fasso e Etiópia,
Mali, Nigéria e Paquistão, Colômbia, Índia e Sudão do Sul,  Filipinas, Congo e Camarões, Venezuela,
Egito e Quênia, Tailândia, Indonésia e Níger, Azerbaijão, Líbia e Senegal,
Burundi e por fim a Costa do Marfim.

O Falocentrismo guia nossa sociedade e a Guerra é a única língua que ela entende, nutrindo assim o nosso desejo antiguerra, António Araújo, um grande crítico de cinema (segundotake.com), disse certa vez que de qualquer modo, todos os BONS filmes de guerra são filmes antiguerra, como Nascido Para Matar, um exemplo de desumanização dos soldados na preparação para a guerra numa exibição fálica de submissão, entretanto, acredito eu, ser Doutor Fantástico uma melhor expressão do desejo antiguerra, filme onde um general do exército põem a culpa da sua impotência sexual num complô comunista de dominação mundial, assim ele ordena o bombardeamento da URSS, ao mesmo tempo, o presidente dos EUA e seus assessores do Pentágono tentam desesperadamente impedir o acionamento da máquina do juízo final.

Doutor Fantástico traz uma livre adaptação de Red Alert, romance sobre a guerra nuclear de Peter Bryant (pseudônimo de Peter George), o filme difere do romance por seu humor negro e pelo seu tom de farsa, evidenciando o seu discurso antiguerra. A Farsa é um gênero teatral onde através de personagens cômicos se satiriza situações, surgiu na Grécia e se espalhou pela Europa por volta do século XIV. Em Doutor Fantástico vemos uma farsa política muito real, mostrando o relacionamento erótico entre homens e a guerra, o estranho amor do título original.
O filme é dirigido por Stanley Kubrick de O Iluminado, aqui sagaz, irônico e profundamente raivoso. O roteiro é escrito pelo próprio diretor com Terry Southern de Sem Destino e no elenco podemos destacar o genial Peter Sellers de Muito Além do Jardim, George C. Scott de Doze Homens e Uma Sentença e Slim Pickens, de A Face Oculta, além de Sterling Hayden, o McCluskey de O Poderoso Chefão, James Earl Jones de O Rei Leão e Star Wars em sua estreia no cinema e Tracy Reed de Um Tiro no Escuro.
Para tentar analisar a guerra podemos trazer a psicanálise e explicar a guerra a partir do homem, em “Além do Princípio do Prazer” Sigmund Freud trata a oposição entre amor e ódio, atração e repulsão, preservação e destruição e pulsões de vida e de morte como preceitos que atravessam o conceito de guerra, pois se a luta armada não for a última opção de um levante popular contra a opressão em busca de uma transformação social e cultural rápida e profunda, ela é apenas um embate de egos, uma disputa fálica para ver quem tem um maior cacete, e em 63 a Guerra Fria esquentou as duas potências antagonistas, elas estavam como crianças se encarando numa disputa de quem pisca primeiro onde ao final o perdedor iniciaria o holocausto nuclear.
Já em “A Interpretação dos Sonhos”, Freud apresenta como símbolos masculinos as armas e o pênis sinônimos de poder nas culturas que valorizam a força física, os símbolos fálicos perfuram, penetram e dominam, e, no filme de Kubrick não é diferente, se apropriando disso ele nos apresenta um mundo de homens onde eles não deixam espaços para mulheres e se encantam pela destruição em massa. Da cena inicial com um Boeing KC-135 Stratotanker transferindo seus preciosos fluidos para um B-52 Stratofortress, passando por pistolas, charutos e até ogivas nucleares, tudo evoca piadas sexuais, ereções e outros elementos de virilidade que se destacam no preto e branco da película.

Cartaz por Chuck
A graça dessa comédia está no fato da política de guerra moderna ser absurda por si só, a insanidade por trás da “Destruição Mutuamente Assegurada” faz o diretor engendrar uma comédia mesmo querendo produzir um drama, todas as atuações no filme por mais caricatas que sejam, são sérias, pois o humor surge da situação absurda e real, para ter uma noção quando Slim Pickens aceitou o papel para o filme, ele recebeu apenas o roteiro de suas cenas e o mesmo nem sequer foi avisado de que se tratava de uma comédia. (E dele vem o momento mais catártico do filme numa montagem orgástica de explosões e reações em cadeia), isso mostra como o Stanley tem total controle do seu processo criativo, Kubrick como fotógrafo e jogador de xadrez, controla a imagem e a lógica narrativa, o xadrez permite observar, analisar uma jogada/tomada melhor sem deixar nada ao acaso, sempre analisando nós enquanto sociedade e nós enquanto indivíduos. Em outras obras do diretor podemos ver o indivíduo sendo analisado como em Nascido Para Matar, Lolita e Spartacus e a sociedade é o tema de Laranja Mecânica, 2001: Uma Odisseia no Espaço e no seu último projeto A.I: Inteligência artificial (concluído dois anos depois de sua morte por Steven Spielberg).

A figura de Strangelove (no Brasil Doutor Fantástico) se baseia em Wernher Von Braun e em mais 1600 cientistas, engenheiros e técnicos levados da Alemanha nazista para os Estados Unidos em empregos no governo após o fim da Segunda Guerra Mundial. A Operação Paperclip foi um programa “secreto” de inteligência dos Estados Unidos que todo mundo tinha conhecimento. E a figura de Strangelove é a mais irônica possível, pois as pessoas que temem os comunistas são aquelas que estão se atreladas aos nazistas, estes que iniciaram a Segunda Guerra Mundial e foram derrotados pela própria União Soviética. Kubrick e Sellers satirizam a paranoia da guerra, os estadunidenses são os primeiros a atirar, depois atiram entre si e uns nos outros e, por fim, eles mesmos explodem a bomba, isso não é spoiler, o homem é autodestrutivo dentro da lógica capitalista.
E ainda falando da figura central do filme, tenho que destacar o braço mecânico de Strangelove e sua vontade própria, onde sempre se exalta quando a conversa gira em torno de massacres ou eugenia, a dificuldade de controlar o próprio braço se apresenta como uma ereção involuntária onde diante da eminente destruição do mundo salta numa saudação nazista apresentando uma ejaculação num grito orgástico “MEIN FÜHRER” de Strangelove, nesse momento Peter Sellers é tão comicamente genial com a mão mecânica se descontrolando e tentando esganá-lo que Peter Bull, o embaixador soviético, pode ser visto tentando inutilmente esconder seu riso.

A comédia tem um poder incrível e sabendo do poder de sua piada, Kubrick pensou em terminar o filme com uma guerra de comida, mas trocou por ogivas nucleares para ninguém pensar que os idiotas no poder fossem inofensivos, e de idiotas no poder nós entendemos bem, eles são tudo, menos inofensivos.
E desta forma concluímos, Freud acreditava que a medida em que a civilização fosse evoluindo, seus instintos destrutivos estariam controlados:
Os civilizados são pacifistas e repudiam a guerra intelectual, emocional e constitucionalmente” Freud, Sigmund. 1933.
A sociedade só chegará a isso no comunismo, onde a política sociocultural e econômica pretende estabelecer uma sociedade igualitária com emancipação humana onde temos a superação de toda e qualquer intermediação para o indivíduo se realizar enquanto ser humano com a superação do capitalismo, abolição da propriedade privada, das classes sociais e do próprio Estado, contudo ainda hoje, de um lado, temos a OTAN se esgueirando sob países beirando as fronteiras Russa, com intenção de ganhar e criar bases militares e do outro lado, o bloco da Ásia, tomando o protagonismo ocidental, aqui sem juízo de valor, mas, na figura de Putin, Xi Jinping e, porque não, Kim Jong-un. Existe instalado no cenário global uma disputa fálica ocidente e o oriente, numa verdadeira necessidade de estar sempre com seus fuzis e mísseis, a cada dia, mais eretos do que nunca, o que faz, em retrospecto, Doutor Estranho de Stanley Kubrick parecer ainda mais brilhante, sombrio e terrivelmente correto sobre os perigos da guerra...
 
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