Crepúsculo dos Deuses - Homens Mortos Também Contam Histórias (TESTE)
🎬💀 Mergulhe nessa história!
Sinopse: Neste ensaio Chuck fala sobre a perda do sonho usando alguns termos do cinema para analisar a história de um Sugar Baby ficando de saco cheio de sua Sugar Mommy. Clássico do cinema.
Crepúsculo dos Deuses — Homens Mortos Também Contam Histórias
O narrador é o protagonista morto.
Não, isso não é um spoiler, mas ao me deparar com isso, me perguntei:
O que nos mantém vivos?
Veja, será que o que nos mantêm vivos em nosso dia-a-dia são os nossos sonhos? Objetivos? O que mantém um escritor vivo, é escrever? O que mantém uma pessoa apaixonada viva, é o amar? E o que mantém um ídolo vivo é a adoração a ele?
Essa questão veio assistindo ao filme Crepúsculo dos Deuses (1950), título em português do filme Sunset Boulevard, escrito e dirigido por Billy Wilder (de O Pecado Mora ao Lado, 1955), e, que, em uma lista elaborada pelo American Film Institute apareceu na décima segunda posição como melhor filme estadunidense de todos os tempos. No elenco temos grandes astros do começo do cinema industrial como William Holden (de A Ponte do Rio Kwai, 1957) e Gloria Swanson (de Aeroporto 75, 1974) entre algumas personalidades interpretando a si mesmos, temos o mordomo Max uma personagem que é a caricatura do próprio diretor alemão que o interpreta, Erich von Stroheim (de Ouro e Maldição, 1924).
O filme constrói sua trama envolta por um clima noir para contar a história de um roteirista desafortunado, uma atriz da era de ouro do cinema mudo e uma aspirante a roteirista num ambiente hostil e masculino. A carga dramática do roteiro se foca nos sonhos que buscamos e como essa busca pode nos brutalizar, sua trama é bem simples, como a maioria dos roteiros era nos anos cinquenta, contudo o filme inicia com uma bela cena em contra-plongée1 de um homem morto boiando na piscina, o que é ironicamente genial já que o nome da técnica, plongée, em francês é mergulho, e a ironia também segue na narração em off2: O pobre sujeito, sempre quis uma piscina. No final, acabou conseguindo uma.
Tão logo descobrimos que a figura em questão é o protagonista, o roteirista Joe Gillis, e a partir dali acompanhamos sua trajetória, história afora e piscina adentro. O acaso o leva a cruzar com Norma Desmond, uma atriz em declínio que, assim como sua intérprete Gloria Swanson, pertenceu à era de ouro do cinema mudo. Ela atrai Gillis para seu universo delirante, onde sonha com um retorno triunfal às telas.
O Crepúsculo dos Deuses tem uma fotografia absurdamente cativante com longas panorâmicas para mostrar a majestade e o glamour de Hollywood e closes para mostrar a loucura íntima de cada personagem. Indicado para onze Oscars, tendo recebido três, um por seu roteiro original ao retratar uma estrela do cinema clássico que não soube se adaptar ao cinema moderno, melhor trilha sonora ao trabalhar a música de forma grandiosa ela nos ambienta enquanto tentamos entender o que nos espera durante a rodagem, e, recebeu também o Oscar que não existe mais, melhor direção de arte em preto e branco, pois é muito mais difícil fotografar em preto e branco que em technicolor3.
O título original do filme é o nome da avenida que corta as cidades de Los Angeles e Beverly Hills, na Califórnia, morada dos deuses, o filme nos dá a sensação agridoce de como o sonho açucarado pode se tornar uma realidade amarga: um roteirista fodido e fugindo da financiadora, se torna um gigolô sem pensar duas vezes. Os dois protagonistas claramente buscam viver um sonho delirante e quando tragados pela realidade são jogados ladeira abaixo. Já o corrosivo amargor tem um intensificador maior hoje, nestes tempos de celebridades descartáveis, produtores de conteúdo e influencers e sua ambição pelo sucesso o filme se torna extremamente atual, e mais, nos mostra como a busca pelo o que sonhou pode não ser alcançada.
Irônico e cruel desde seu lançamento, Crepúsculo dos Deuses é uma obra de arte atemporal, pois como na fala de Norma Desmond “As estrelas não tem idade”.
A mansão que aparece no filme foi construída em 1924, e não fica na Sunset Boulevard, na época das filmagens, pertencia à ex-mulher de um magnata do petróleo. A mansão foi demolida em 1957 e em seu lugar ficou um posto de gasolina, falo isso, pois o filme, assim como a vida, não nos dá um personagem bom ou mal, ignorante ou inteligente, ele dá personagens humanos que buscam algo e tentam alcançar culminando em um final trágico e poético, então SIM! O que nos mantêm vivos em nosso dia-a-dia são os nossos sonhos!
O que mantém um escritor vivo é escrever.
O que mantém uma pessoa apaixonada viva é amar.
O que mantém um ídolo vivo é a adoração que lhe é direcionada.
Portanto Crepúsculo dos Deuses nos diz para sonhar, pois se por medo deixar os sonhos de lado, ao querermos retomá-lo pode ser tarde demais, pois, todo sonho tem seu alvorecer e também seu crepúsculo.
Assista: Crepúsculo dos Deuses
Contra-Plongée é o plano onde a câmera captura a imagem de baixo para cima. Seu objetivo é tornar o objeto focalizado mais poderoso e imponente.
Narrativa em Off em da expressão “off câmera”, pois o que é ouvido surge de um lugar fora da imagem na tela. Nos roteiros para filmes tradicionais, voz off frequentemente se refere à voz de um narrador ou elemento que cumpre essa função.
Technicolor é um processo cinematográfico de colorização, a primeira versão datada de 1916 e o termo se aplica a quase todos os filmes feitos a partir de 1954 nos quais Technicolor é citado nos créditos. Também é o nome da empresa guarda-chuva que abrange todas as versões e serviços auxiliares desde 1914.