Sinopse: Este texto é uma pequena divagação sobre cinema e cultura, analisando o filme “Trumbo” e o medo d'A ARTE COMO ARMA REVOLUCIONÁRIA que muitos idiotas têm.
Trumbo: A Lista Negra/Shivhans Pictures/Divulgação |
A Arte Como Arma Revolucionária – Trumbo: A Lista Negra
Enquanto as vozes culturais, intelectuais e artísticas
são cunhadas nas universidades equipadas com adornos em suas estantes cheias de
pó da classe média e seus mecanismos de manipulação em massa cumprem seu
papel repressor sem nenhum problema, nós somos jogados e mantidos a margem dessa
sociedade onde não bastando negarem nossos direitos, dão privilégios à essas
tais personas centrais, porém eles preferem não ver neste movimento a criação dos
seus próprios antagonistas.
No decorrer da história recente houve um rompimento
entre cultura e educação, entretanto, cultura é educação. Hoje tratamos educação
como princípio e depois cultura como consequência ou algo à parte, sempre vista
em segundo plano e sem importância, mas se visamos realmente o desenvolvimento
completo da nossa sociedade, não só pensando nos clichês de hoje, a cultura é a
pauta central para o desenvolvimento humano. Tudo é cultura, e ela é tão
importante assim, pois ela instrui e inclui. A cultura cumpre um papel formador
do indivíduo, principalmente quando pensamos cultura enquanto arte.
A arte não se encaixa sobre modelos prontos, mas se
esforça por dar uma expressão á necessidade interior do homem, sendo ela sempre
combativa, é vital não somente para o artista, mas para todos os indivíduos,
pois com ela podemos ter uma reconstrução completa e radical da sociedade, porque
é dentro desta relação paradoxal onde é preciso haver uma transformação
cultural para que haja uma transformação social, e uma transformação social
para alcançarmos uma revolução cultural.
A arte deve ser usada, e será, como arma revolucionária.
A arte como meio revolucionário era o medo do "Comitê de Atividades
Antiamericanas" dos Estados Unidos. Esse movimento culminou numa história absurda, a qual gera o filme "Trumbo - Lista
Negra". Um drama biográfico dirigido por Jay Roach de "Austin Powers" e escrito por John McNamara que, ao que parece, trabalhou
apenas na TV sendo o maior destaque a série "The Magicians", o filme é estrelado
pelo indicado ao Oscar, por este filme, Bryan Cranston de "Power Rangers" (já citado aqui) e da
maior série de todos os tempos "Malcolm in the Middle", na película temos
também Helen Mirren de "Velozes e Furiosos 8" e Elle Fanning de "Como Falar Com
Garotas em Festas" e John Goodman de "O Grande Lebowski" (um dos meus
favoritos).
Ao se recusar cooperar com o "Comitê de Atividades
Antiamericanas" o roteirista Dalton Trumbo acabou preso e proibido de trabalhar; Mesmo escrevendo as histórias de maior sucesso de sua época, ele sofre com os
boicotes do governo e com uma série de problemas a partir da perseguição aos
comunistas na Terra da Liberdade.
E isso não foi, nem é um problema exclusivamente do Império da Democracia, tentam nos tirar a arte por sua extrema importância, nos marginalizam e a industrializam para que diariamente soframos essa perseguição, mesmo de forma velada. A indústria montada em torno da cultura, lembrando que nosso objeto de analise é a
sétima arte, é uma artimanha para colocá-la no centro da disputa da luta de
classes, veja, o descrédito da produção nacional frente à produção estrangeira costuma
predominar na discussão cinéfila, “O CINEMA BRASILEIRO É RUIM” é o princípio
para isso, como podemos ver em alguns centros urbanos a elitização das salas de
cinema e a extinção dos cinemas de rua. Em dois mil e dezessete, foram
registrados na Agência Nacional do Cinema (Ancine) trezentos filmes de
longas-metragens, contudo, apenas cento e sessenta foram lançados em salas de
cinema.
Para conhecermos mais daquilo produzido nos grandes
centros e esquecermos o que esta do nosso lado na periferia.
Para não criarmos uma identidade.
Nos marginalizam para não estabelecermos uma identidade
de pertencimento.
Em Trumbo vemos a Lista Negra de Hollywood,
criada mantida pela indústria do entretenimento
estadunidense com nomes de roteiristas, atores, diretores, músicos e demais
artistas para boicotar "simpatizantes do comunismo" e negar-lhes emprego. Para
entrar na lista bastava defender ideias progressistas publicamente ou
não, de esquerda ou não, sendo comunista ou não. A Lista se iniciou em mil
novecentos e quarenta e oito com dez nomes e eles ficaram conhecidos como Os
dez de Hollywood, e são responsáveis por grandes clássicos do cinema, só o protagonista do filme escreveu Papillon, Spartacus e A Princesa e o Plebeu,
alguns deles escritos com pseudônimos.
Acompanhando o filme por suas longas duas horas vemos que a Lista Negra sem
dúvida foi uma passagem vergonhosa para os paladinos do capitalismo e, ao caracterizar os
antagonistas como idiotas, uma das maiores provas da estupidez humana, contudo
o grau de simplismo do longa não faz jus ao ganhador de dois Oscars: Dalton
Trumbo. Bryan Cranston de fato está bem no papel que compôs, mesmo ignorando
todas as contradições e imperfeições da figura retratada. O filme tenta coloca-lo numa máscara
de herói mesmo não se encaixando bem no personagem e na própria figura
real. Inspirado na biografia “Trumbo”, de Bruce Cook, o filme reduz um episódio complexo a uma mera luta entre o
bem e o mal, na qual todas as qualidades estão de um lado e os defeitos de
outro são ignorados. Dalton Trumbo ao receber um prêmio no sindicato dos
roteiristas em mil novecentos e setenta disse:
— Quando você olha para trás, com curiosidade
em relação àquele período sombrio, não é bom procurar vilões, heróis, santos ou
demônios, porque não há; há apenas vítimas.
Vítimas de um Estado iconoclasta, capitalista e utilitário.
A cultura não é só arte, mas toda e qualquer manifestação
humana, por exemplo a internet, a rede reflete aquilo há nas ruas e, nas redes
e nas ruas há cultura. Livros, filmes e músicas, shows, séries e comidas entre
tantos outros derivados, em sua maioria não nos representam e não nos é
acessível, porém nós podemos fazer por nós e para nós, chamando as pessoas para
consumir, produzir e divulgar, instigar, investir e lutar.
A arte não se curva.
Devemos evidenciar a nossa luta por nossa identidade numa
guerra que nunca acabou, buscando de fato um tempo de paz que nunca houve. Não
se esquecendo: Se estamos nas redes e nas ruas, temos um acesso mínimo à
cultura, mesmo quando nos é negado apoio a nossa produção cultural e qualquer
outra da qual poderíamos consumir, pois o lucro é o único fim visto por eles. O
filme deixa claro, os financiadores de Trumbo não simpatizam com seus ideais,
desejam capitalizar em cima de seu talento. O artista deve sim ganhar dinheiro
e viver para produzir sua arte, mas nunca produzir e viver para ganhar
dinheiro.
Vivendo pela arte e não da arte.
Trumbo não é um filme ruim, mas também não é um bom, é
OK, trago ele pelo registro histórico e para dizer que não podemos deixar de
lado, nos abster da nossa arte, da nossa cultura, mesmo sendo perseguidos,
mesmo nos negando, temos de tomá-la e fazê-la nossa como é de fato,
fortalecendo o desenvolvimento humano e relações internas e externas, pois um
povo sem cultura é um povo sem identidade e a nossa identidade é a luta, sempre firme
pois a vitória é certa.
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