Sinopse: Refletindo sobre o impacto cultural do filme de Sam Raimi em relação ao trailer banido devido às referências às Torres Gêmeas, Chuck, acessa suas memórias, tais como a emoção de finalmente assistir a ele em 2019.
Homem-Aranha/Columbia Pictures/Divulgação |
2001:
Fim do Mundo, Al-Qaeda e um Trailer Banido – Homem-Aranha de Sam Raimi
Lembro
muito bem do período inicial dos anos dois mil, o novo milênio se iniciou com
minha família orando pelo possível fim do mundo, logo depois deu meia-noite e
um, dois, três e o mundo não acabou. A oração funcionou. Mas, apesar do mundo
não ter acabado, uma gestação depois o mundo parou; E mesmo com os esforços de
Dona Vera, diretora da escola E.E.P.G. Pedro Sommerhauzer, em explicar o que
estava acontecendo para crianças de doze anos, lendas surgiram naquele onze de
Setembro, por exemplo por muito tempo o consciente coletivo cunhou a ideia de
que a transformação de Goku em Super Sayajin Três foi
interrompida pelo Plantão Globo, sendo que Dragon Ball Z nem
foi exibido no dia, entretanto não é sobre isso que eu quero falar, quero falar
sobre o evento realmente marcante para os jovens naquele fatídico ano:
— O TRAILER BANIDO!
O
mundo era bem diferente no inicio do século, naquela época a gente ficava
sabendo dos filmes que iriam estrear através dos trailers exibidos no inicio
dos filmes tanto nos cinemas quanto nos VHS/DVDs e também tínhamos a icônica Revista
Set (Gostaria de ter minha Set Especial do Homem-Aranha, ela virava um
pôster do Cabeça de Teia). O Homem-Aranha é um dos meus heróis favoritos,
lembro até hoje da excitação que senti com meus treze anos ao ir no cinema e de
assistir até a exaustão o VHS pirata da película, não atoa, o filme é realmente
bom e foi a maior bilheteria de dois mil e dois nos Estados Unidos e a terceira
no mundo, Homem-Aranha foi dirigido por Sam Raimi de Arraste-me Para o Inferno,
produzido por Ian Bryce de A Ilha e Laura Ziskin de Uma Linda Mulher, com
roteiro de David Koepp de A Janela Secreta, o filme adaptada o mais popular
personagem da Marvel Comics criado por Steve Ditko e Stan Lee contando com as
atuações de Tobey Maguire de Seabiscuit, Kirsten Dunst de Jumanji e
Willem Dafoe de Santos Justiceiros. Este filme nos apresenta de forma bem
dinâmica a origem do personagem, o desenvolvimento e seu embate não com o
vilão, mas com a questão: QUEM EU SOU, o roteiro do filme nos lança
numa jornada de desenvolvimento pessoal na busca do entendimento de si partindo
da primícia de que com grandes poderes vem grandes responsabilidades,
frase esta de Augusto Comte, dita por Stan Lee na Amazing Fantasy #15
em Agosto de sessenta e dois e foi imortalizada na voz de Tio Ben neste filme
numa referencia a primeira aparição do personagem nas HQs.
A
feitura desta obra é impecável dês de boas atuações, passando pelo som e os
efeitos especiais, John Dykstra, o “criador” dos sabres de luz de Star Wars,
surpreende, ele conseguiu fazer uma versão cinematográfica do Aranha de maneira
muito eficiente, a construção digital dos movimentos garantiu duas indicações
ao Oscar Melhores Efeitos Especiais, que envelheceram muito bem, apesar de ser
nítido a transição entre o ator e sua animação em CGI.
Se
não me falha a memoria em dois mil e um só se falava em fim do mundo, Al-Qaeda
e o filme do Homem-Aranha, a Sony Pictures junto a Columbia Pictures lançaram
nos cinemas a primeira prévia do filme do escalador de paredes, como já disse
eram tempos diferente, a sinopse do filme é simples: Picado por uma
aranha geneticamente alterada um jovem brilhante tenta entender que com grandes
poderes vem grandes responsabilidades, contudo, não era isso que o teaser
nos apresentava, ele mostrava o inimaginável, um filme de Sam Raimi e todos os
seus vícios de câmera, ou como alguns dizem “Sua Assinatura”, este teaser
ressalta o fato do personagem ser o amigão da vizinhança mostrando sua intima
relação com a cidade de New York dando um papel crucial para as Torres Gêmeas, já
que a relação entre o cinema e Nova York foi sempre muito estreita e tinha
tudo para dar certo, e deu por um tempo, até o refluxo do onze de Setembro.
Cartaz por Chuck |
Os
transtornos de reorganizar vários filmes se somou á uma nova tendência de
produção, que havia sido abordada entre os estúdios de cinema e o governo Bush: Impulsionar
a criação de filmes que defendessem a visão oficial sobre os perigos do
terrorismo e reafirmar os valores pró-americanos. Ainda bem que Homem-Aranha
não caiu nessa, o filme passou por retoques claro, para apagar algumas
referencias as torres e o trailer foi banido, retirado de circulação pela
Columbia.
Junto
a Richard Donner e Jon Favreau, Sam Raimi, conta uma das melhores histórias “de
origem”, com uma mistura muito equilibrada entre adaptação e obra original
dando um destaque para o vilão canastra e caricato de Willem Dafoe, Raimi é um
dos meus favoritos desde que vi Evil Dead, a série Hércules, Shena, Rápidas e
Mortais e assim por diante, ele foi sem duvida a escolha perfeita para dirigir
esse filme, pois já havia feito Darkman – Vingança Sem Rosto, um ótimo filme de
super-herói que fez o caminho inverso: Saiu do cinema e foi para os quadrinhos.
As decisões de direção e roteiro foram cruciais para o sucesso do filme, junto
a paleta de cor vibrante carregada em vermelho e amarelo evitando os uniformes
do herói e vilão sobressaindo de maneira exagerada em relação ao ambiente, o
filme não é tão colorido quanto os filmes atuais da Marvel Studios e
nem tão escuro quanto os filmes DC do Zack Snyder.
Toda a fita acabou com um ar fortemente cartunesco mesmo se distanciando dos
quadrinhos, tudo funciona de maneira muito orgânica, nos primeiro vinte e cinco
minutos de fita, com o Aranha aparecendo pela primeira vez com o uniforme
“oficial” aos cinquenta minutos dos seus cento e vinte e um de projeção. A
história se mostra realmente bem estabelecida até mesmo no teaser banido, pois
se não fosse uma campanha de marketing funcionaria perfeitamente como um curta-metragem.
O teaser banido não era apenas um recorte de cenas do filme como geralmente é,
ele tinha uma história com começo, meio e fim, até gosto de dizer que estavam
referenciando as tiras de jornais do próprio Homem-Aranha.
Logo
depois do atentado as Torres Gêmeas a tendência inicial foi não tocar no
assunto até que as feridas cicatrizassem, pouco a pouco foram aparecendo filmes
que abordam o tema. Hoje tudo parece muito normal. Mas na época os jornais
falaram muito sobre o trailer banido, não me lembro ao certo se no Fantástico
ou no Jornal Nacional, mas lembro de ver noticias sobre e ficar com medo de que
o filme pudesse não ser lançado, muitos projetos foram cancelados, muitos
filmes não foram pro cinema, pode parecer algo mesquinho, mas para uma criança o
peso era diferente, por não entender o tamanho da tragédia ficar sem seu herói
era o que mais assustava.
Com
o teaser tirado de circulação para nunca mais ser visto, até a estreia do
filme no ano seguinte eu não consegui ver trailer algum a não ser alguns spots
de TV pouco antes da estreia do filme. Sobre o teaser, eu nunca havia
visto este famigerado trailer até trinta e um de julho de dois mil e
dezenove. O canal de YouTube Yoshi Killer2S publicou um
escaneamento digital da película 35 mm original do trailer.
Isto
é, só agora, dezoito anos depois de seu banimento, eu pude finalmente assistir este pequeno
sopro de genialidade em boa qualidade e a experiência foi muito boa, foi foda!
Foi como ser transportado até minha infância, todos os meus pelos se
eriçaram e algo prazeroso aqueceu meu coração gelado, rapidamente o
trailer funcionou e logo após assisti-lo voei até o serviço de streaming mais
próximo e assisti ao filme também, e foi magnifico, o filme
envelheceu de forma charmosa, Homem-Aranha, este neurótico funcional tem mais
duas sequencia a partir deste filme, sendo Homem-Aranha #2, sem hipérbole,
o melhor filme de herói de todos os tempos, e sobre o #3, bem ele é
um pouco abaixo da media, contudo, Homem-Aranha #1 tem um
lugar especial em meu coração por conta de sua despretensiosa
grandiosidade, pelo momento em que foi lançado e tudo mais, o filme fica
melhor cada vez que vejo.
Assista ao Trailer Banido