Memória, Cinema e NBA: Um Ensaio Sobre Como a Liga Utiliza Engrenagens Socialista Para Mover o Capital.
🏀 ☭ É basquete ou socialismo? Talvez ambos!!
Sinopse: Neste ensaio Chuck interliga memórias, análise cinematográfica e basquete, utilizando um fluxo de consciência onde combina teoria social, história da NBA e cultura pop para explorar como uma lógica socialista serve, paradoxalmente, à manutenção das contradições do capitalismo na liga de basquete norte-americana.
1. MEMÓRIAS, AFETO E INICIAÇÃO
Quando penso na minha infância, tenho a impressão de que eram tempos mais simples. No entanto, ao refletir sobre o que foi crescer na década de noventa, percebo que a experiência foi muito mais complexa do que eu me lembro. A infância neste período foi marcada pela internalização precoce e brutal da lógica neoliberal. Essa lógica de mercado não apenas moldou nossa relação hoje com o trabalho e o consumo, mas também infiltrou-se nas relações pessoais, provocando a erosão dos laços sociais e gerando em nós a sensação de que não há alternativas viáveis ao sistema vigente — o que Mark Fisher1 chama de realismo capitalista. Desde cedo, aprendemos que nosso valor individual depende da produtividade, do desempenho e da capacidade de adaptação às exigências do mercado. Hoje, adultos enfrentam uma espécie de "depressão sistêmica", não porque ela afeta todo o corpo, mas porque é sistematicamente produzida e reproduzida pelo próprio sistema: o capitalismo. Ainda assim, na minha memória, eram tempos mais simples.
Eram tempos mais simples?
Cresci em uma época em que a maioria das pessoas não sabia o que era a NBA, mas todos conheciam o mito Michael Jordan (o MVP da minha geração). Nessa época não sabíamos o que seríamos quando crescêssemos, mas com certeza queríamos ser “like Mike”, e muito disso “It's Gotta Be The Shoes”. Os jogos da NBA que assistíamos eram quase sempre o último jogo dos playoffs2 ou NBA All-Star Game3 exibidos na T.V. por V.T. (video tape), com atraso de cerca de um ano em relação à temporada em curso — não tínhamos o calor do momento, mas tínhamos os comentários de Luciano do Valle e Álvaro José? A memória pode até enganar, mas não há dúvida: Eram tempos mais simples.
O basquete é um jogo relativamente simples. Seu objetivo é marcar pontos chutando a bola na cesta — que na verdade é um aro — do adversário, ao mesmo tempo em que deve-se impedir o adversário de fazer o mesmo. O time atacante tem 24 segundos para finalizar uma jogada (chutar a bola no aro), reinicia o cronómetro se a bola tocar no aro ou se houver falta. Ao final do tempo regular, vence o time com mais pontos. As regras básicas envolvem a pontuação: uma cesta vale dois pontos quando feita dentro do arco de três pontos e três pontos quando realizada de fora desse arco, sendo que essa distância pode variar conforme a liga. Já os lances livres, concedidos após faltas, valem um ponto cada.
A duração do jogo varia de acordo com a liga. Na liga em questão, são disputados quatro quartos de 12 minutos cada, enquanto nas competições internacionais organizadas pela FIBA, os quartos têm 10 minutos. Se houver empate ao fim do tempo regular, ocorre uma prorrogação, o overtime4. Simples, não?
Simples, assim como aqueles tempos?
Eram tempos mais simples, sim. Tempos em que, na quebrada onde morava, havia espaço até para as pequenas ironias, geralmente as mais simples, nessa epoca muita gente usava um boné com a estampa de uma vespa, a qual achávamos ser um abelha, sem saber que aquele era o símbolo auto explicativo do nome de uma franquia da liga — que, cá entre nós, sem jargões empresariais, sempre vamos chamar de “time de basquete”.
E foi de forma simples, com 11 times, que a NBA (National Basketball Association) foi fundada em 6 de junho de 1946, inicialmente como BAA (Basketball Association of America), antes de adotar o nome atual após a fusão com a NBL (National Basketball League) em 1949. Eu sei que já são muitos acrônimos, mas outra liga importante foi a ABA (American Basketball Association), criada em 1967 como uma concorrente direta da NBA, ela coexistiu por um tempo, mas em 1976, a ABA foi incorporada à NBA, levando quatro times, a linha de três pontos e as enterradas. Essa expansão da liga ocorreu de forma gradual, com equipes adicionadas ao longo das décadas, tais como o Sacramento Kings, originalmente fundado em 1923 como Rochester Seagrams, o time mais antigo em atividade. Na sequência, vieram o Detroit Pistons em 1937, e em 1946, os icônicos Boston Celtics, New York Knicks e Golden State Warriors. O Los Angeles Lakers surgiram em 1947, seguidos por Atlanta Hawks e Philadelphia 76ers em 1949.
A década de sessenta marcou a chegada de franquias como Washington Wizards em 1961, Chicago Bulls em 1966, em 1967 temos Brooklyn Nets, Houston Rockets e Indiana Pacers, além de Denver Nuggets e Oklahoma City Thunder (originalmente Seattle SuperSonics), ainda nesta década vem Milwaukee Bucks e Phoenix Suns em 1968. Nos anos seguintes vem Cleveland Cavaliers, Portland Trail Blazers e Los Angeles Clippers em 1970, o Utah Jazz é de 1974 e San Antonio Spurs em 1976. A partir daí surgiram Dallas Mavericks em 1980, Miami Heat e Charlotte Hornets (a do boné) em 1988, além de Minnesota Timberwolves e Orlando Magic no ano seguinte. Em 1995 somam-se Toronto Raptors e Vancouver Grizzlies (atual Memphis Grizzlies). Por fim, o New Orleans Pelicans, estabelecido em 2002 como Hornets e renomeado em 2013, completa o cenário atual da NBA com trinta equipes.
Pode parecer maçante e complicado, mas é uma linha do tempo simples, e olha que eu nem dei muita atenção para as mudanças de cidades e de nomes, para ficar assim como os tempos eram mais simples.
O basquete foi sendo introduzido aos poucos no meu dia a dia, quase como um non-look pass5, quando percebi estava procurando stats6 de temporadas e jogadores que nem na minha memória estão mais. Naquela época, eu costumava assistir aos curtas-metragens dos Looney Tunes produzidos entre 1930 e 1969 — a Era de Ouro da Animação Estadunidense —, seja em V.H.S ou quando exibidos na T.V. Foi assim que descobri o filme Space Jam: O Jogo do Século (1996), de Joe Pytka, esse filme é um clássico, grandioso como Mike, além de consolidar Bill Murray (de Encontros e Desencontros, 2003) como uma das pessoas mais carismáticas de todos os tempos. Já o havia assistido antes, mas foi durante a exibição do dia 28 de agosto de 2001, no Cine Espetacular, que ele verdadeiramente me capturou e não foi por conta do sequestro de Patrícia Abravanel ter tido um desfecho, foi como o filme trata o basquetebol e a relação de Jordan com o esporte que me fascinou. Como sou fã de filmes esportivos — uma dos meus subgêneros cinematográficos preferidos —, aquela experiência me inspirou a mergulhar no basquete. Joguei regularmente na escola dos onze aos quinze anos e, posteriormente, com dificuldades de conciliar treino e trabalho, veio meu turnover7 e decidi me tornar apenas um torcedor espectador.
Até minha aposentadoria precoce das quadras, joguei como pivô — e, no basquete, existem cinco posições: O armador (Point Guard) é responsável por organizar o ataque; o ala-armador (Shooting Guard) destaca-se nos chutes; e o ala (Small Forward) é o jogador versátil, atuando tanto no ataque quanto na defesa; em seguida vem o ala-pivô (Power Forward) combina força física com habilidade de chute; e por fim temos o pivô (Center), posição que eu ocupava, atua próximo à cesta, focado principalmente nos rebotes. Afinal, quem domina o rebote, domina o jogo.
E para dominar o rebote, é preciso algo aparentemente simples: saber utilizar os fundamentos do esporte. Entre eles, destacam-se o drible8 (controle da bola com as mãos para desviar dos adversários), o passe (realizado de formas variadas, como pelo peito, quicado ou por cima) e o chute (executado em jump shot9, bandeja, enterrada ou hookshot10). A defesa também é essencial, envolvendo bloqueios, roubos de bola e posicionamento tático. Já o rebote, minha principal habilidade, permite recuperar a bola que sobra após um lance errado ou qualquer outro tipo, definindo assim o ritmo da partida. Essa lição em específico eu aprendi de forma prática e por um caminho simples.
Durante aqueles anos de simplicidade, houve um forte movimento migratório de descendentes de japoneses do Brasil para o Japão, conhecido como Dekassegui (出稼ぎ). Minha tia, irmã de minha mãe, integrou esse fluxo, e uma boa diversão que tive como sobrinho otaku foi aguardar os omiyage (お土産) que ela enviava do Japão. Entre Tamagotchi (たまごっち), hashis (箸) e sensus (扇子), recebi uma caneca de plástico com um boneco usando o uniforme dos “Chicago Bulls”. Gostei do presente, mas me encantei de verdade ao descobrir que se tratava de Slam Dunk mangá serializado na revista Weekly Shōnen Jump de 1990 à 1996 — o boneco era um chibi face de Rukawa Kaede, personagem icônico desse mangá que vendeu cerca de 170 milhões de cópias no Japão. No Brasil foi publicado em 31 volumes pela Editora Conrad em 2005, depois pela Panini e em 2016, a obra ganhou um filme dirigido pelo próprio criador da obra, o mangaká Takehiko Inoue: The First Slam Dunk (2022).
Sem dúvida, este filme é um clássico moderno. Se o estilo de animação híbrido (3D e 2D) ainda não me conquista por completo, todo o trabalho técnico — da direção precisa de Inoue ao ritmo cinematográfico e trilha sonora — é impecável. Inoue não apenas conclui sua jornada com a obra que o consagrou, mas a eleva a outro patamar, confirmando Slam Dunk como sua obra-prima definitiva. A carga emocional do filme com novas narrativas, aliada à reconstrução de cenas icônicas da obra literária, cria uma ponte entre nostalgia e inovação. Para fãs, é uma celebração; para novos espectadores, uma aula de storytelling esportivo.
Em The First Slam Dunk Inoue provou que basquete, afeto e arte são universais.
Como Ueda e Morales (2006) observam, o animé exerceu papel significativo na socialização de jovens brasileiros com a cultura japonesa — entretanto esse mesmo fenômeno não ajudou apenas a difundir obras como Slam Dunk, mas fundamentalmente ajudou na minha entrada no universo do basquete. Quem diria que uma caneca, durante o do “boom” do animê no Brasil, seria minha primeira ponte para o basquete.
Realmente, eram tempos mais simples.
CINEMA, TÁTICA E REPRESENTATIVIDADE
O basquete, além de simples, é um esporte dinâmico, estratégico e emocionante, que exige habilidade, inteligência e trabalho em equipe; e isso é uma bandeja11 perfeita com o cinema. No ataque, técnicas como o pick and roll12 (bloqueio e progressão) criam oportunidades ao explorar a sincronia entre jogadores; o fast break13 (contra-ataque rápido) surpreende a defesa adversária com velocidade; e o triângulo ofensivo prioriza passes com assistências precisas e movimentação constante da equipe para gerar espaços. Para ilustrar essas estratégias, vou indicar Reservation Ball, estilo de basquete praticado em comunidades indígenas estadunidenses, marcado por ritmo acelerado, improvisação e intensidade física, pois a equipe ataca em sete segundos. Mais que um estilo, é uma ferramenta de esperança e mobilidade social, com torneios como o Native American Basketball Invitational (NABI) revelando talentos e fortalecendo laços comunitários. Essas conexões entre esporte e cultura ganham vida no filme Rez Ball (2024), de Sydney Freeland. Inspirado na trajetória real de um time Navajo do ensino médio, a obra elucida o trabalho em equipe que descrevi e também transcende clichês do gênero esportivo: as cenas de jogo, roupas estilosas e panorâmicas das paisagens áridas de uma reserva indígena Navajo compõem um retrato sóbrio e poético. Freeland equilibra arte e técnica — a cinematografia sensível evita sentimentalismos baratos, enquanto cada chute reverbera como metáfora da resistência dos povos originários.
Embora eu tenha destacado acima o ataque, a defesa é igualmente crucial para o esporte. Sistemas como a defesa em zona (onde jogadores cobrem áreas específicas da quadra) e a marcação homem-a-homem (que exige cobertura individual rigorosa) são pilares para neutralizar o rival. Para ilustrar esse equilíbrio, evoco Coach Carter (2005) de Thomas Carter (sem parentesco com o biografado). Assisti ao filme em seu lançamento em DVD — 21 de junho de 2005, se não me falha a memória —, e ele permanece como um ótimo espécime do gênero. Apesar de seguir a fórmula de “superação esportiva”, destaca-se pela execução impecável: o roteiro de Mark Schwahn e John Gatins e a direção ágil transformam clichês em narrativa carismática. A disciplina e o treino, simbolizados pelo “contrato” do treinador, ganham vida nas cenas de quadra, especialmente no “círculo defensivo” — sequência icônica que mostra jogadores sincronizados na marcação homem-a-homem. Essa base tática não só reflete a filosofia do personagem, mas demonstra como um boa defesa pode proporcionar um buzzer beater emocionante, chute decisivo que só ressoa porque o filme, como um time bem treinado, construiu cada detalhe desde o início.
Aliás, além do NABI citado anteriormente, o campeonato retratado em Coach Carter é o Campeonato Estadual de Basquete do Ensino Médio da Califórnia (California State High School Basketball Championship), referente à temporada 1998-1999 da Divisão I da CIF (California Interscholastic Federation) e sobre competições, o basquete se desdobra em diversos formatos globais: ligas profissionais como a NBA e a WNBA; torneios continentais de elite, como a EuroLeague na Europa; e eventos internacionais de prestígio, como os Jogos Olímpicos e a Copa do Mundo da FIBA. No cenário universitário, a NCAA (EUA) funciona como celeiro de talentos para a sua liga principal, enquanto no Brasil, o NBB (Novo Basquete Brasil) busca consolidar-se como uma liga competitiva, fomentando o esporte local. Todas essas competições diferem da NBA em um único aspecto que tratarei depois, mas como um todo elas não só elevam o nível técnico do basquete, mas também catalisam estratégias inovadoras e revelam futuras estrelas.
Falando em estrelas, o basquete — criado em 1891 por James Naismith — tem uma história rica, marcada por ícones que transcenderam gerações. Michael Jordan, por exemplo, revolucionou o jogo dentro e fora das quadras como podemos ver no filme Air (2023), de Ben Affleck, que não é tão grandioso quanto o próprio, mas é um filme gostoso, e deixa claro: Nike é um risco certo, Adidas são três errados.
Seguindo no caminho pavimentado por Jordan temos LeBron James impactando em múltiplas frentes: além de dominar as quadras, atua no cinema como produtor, destaco o filme Hustle (2022) de Jeremiah Zagar, LeBron também é coautor de Shooting Stars (2023) de Chris Robinson, que destaca-se pela combinação de técnicas visuais inovadoras, como cenas aéreas com drones que ampliam a grandiosidade e imersão no esporte, essa narrativa vai além da biografia do astro, focando na trajetória de seus amigos, como uma saga sobre amizade e família.
E indo mais atrás e não menos importante, temo Kareem Abdul-Jabbar, lenda que brilhou tanto nas quadras quanto no cinema, seja em O Jogo da Morte (1972) estrelado, escrito, dirigido e produzido por seu amigo Bruce Lee, seja no documentário Kareem: Minority of One (2015) de Aaron Cohen, que explora sua trajetória como atleta e ativista. Outros gigantes incluem:
Kobe Bryant, imortalizado por Spike Lee ao fazer apenas o seu trabalho em Kobe Doin’ Work (2009).
Dennis Rodman, mestre dos rebotes e estrela de A Colônia (1997) de Tsui Hark, entretanto, para mergulhar na mente do atleta assista ao Rodman: For Better or Worse (2019) narrado e produzido por Jamie Foxx.
No cenário brasileiro, destaca-se Oscar Schmidt, o “Mão Santa”, cuja maestria nos chutes de três pontos é contada no documentário Revolução do 3 (2020) de David Feldon, que resgata a história de como o Brasil atuou nos Jogos Pan-Americanos de 1987 em Indianápolis, nos Estados Unidos, dominando a cesta de três pontos eles jogaram como os jogadores da NBA só só viriam jogar vinte e cinco anos depois.
Outros nomes destaco Nenê Hilário, Leandrinho Barbosa e Anderson Varejão, sem se esquecer de Marquinhos Abdalla. No feminino, Lisa Leslie, Diana Taurasi e Magic Paula, além de Hortência Marcari e Damiris Dantas, elas construíram um legado de títulos e inspiração.
Cada um desses atletas, com suas conquistas e estilos únicos, moldou o basquete como um esporte global — onde técnica, emoção e cultura se entrelaçam com a política.
NBA COMO ALEGORIA SOCIALISTA E LABORATÓRIO DA CONTRADIÇÃO CAPITALISTA
Em Notas de literatura (1973), Theodor Adorno explora a relação dialética entre arte, sociedade e crítica cultural, defendendo que a literatura (e a arte de modo geral) não é mero reflexo passivo das condições sociais, mas um campo de resistência, contestação e luta. O ensaio, como forma escolhida para este texto, propõe que a forma estética carrega em si uma potência crítica, capaz de desvelar as contradições da modernidade capitalista e da cultura de massa. O cinema, a política e o esporte na figura da NBA, por sua vez, condensam intrinsecamente essas tensões, pois, “a arte só é verdadeira enquanto se mantém fiel à sua própria lógica formal, que é, em última instância, a lógica da negação”, deste modo revelando suas contradições, questionando e enfrentando, revelando o que está deformado ou oculto na realidade.
Sendo assim, construí este texto partindo da crítica marxista, que busca não apenas interpretar a realidade, mas transformá-la. Diante da desigualdade estrutural do capitalismo — baseada na exploração do trabalho e na concentração dos meios de produção —, observo um paradoxo ao analisar instituições aparentemente alheias à luta de classes, como a NBA. A liga norte-americana, presente apenas nos Estados Unidos e no Canadá (país onde o basquete foi criado e onde nasceu seu criador respectivamente), adota, em sua busca por “equilíbrio competitivo”, mecanismos que se aproximam de certos princípios socialistas, tais como redistribuição de renda, centralização e organização coletiva do trabalho. Essas medidas revelam como a regulação pode suavizar as contradições inerentes ao mercado — sem, no entanto, alterar sua lógica.
Marx analisa a desigualdade como fruto da estrutura capitalista, defendendo a redistribuição radical por meio da socialização dos meios de produção. A primeira semelhança entre a NBA e o socialismo está no uso de mecanismos centralizadores e redistributivos. A liga impõe regras coletivas — como o teto salarial, o sistema de draft e a divisão de receitas de direitos de transmissão — que equilibram as condições competitivas entre os times. Esses instrumentos, destinados a evitar a concentração excessiva de recursos, dialogam com a ideia socialista de reduzir desigualdades, ainda que o objetivo final da NBA seja “manter a competitividade e a integridade do espetáculo”. Essa finalidade pragmática se exemplifica na relação de times de mercados menores (como Memphis ou Oklahoma) que não podem quebrar a hegemonia de grandes mercados (Lakers ou Knicks) que dominam receitas locais e influenciam significativamente os meios de comunicação — uma dinâmica que remete à dependência de países periféricos em um sistema global desigual, mas precisam ser suficientemente relevantes para manter o interesse do público.
Basicamente esse winning streak14 da NBA se sustenta em quatro pilares:
Teto Salarial: Limita a acumulação de talentos por times ricos, funcionando como um controle coletivo sobre o “capital esportivo” (os jogadores).
Draft: Processo de seleção de novos jogadores em que equipes com pior desempenho na temporada anterior têm prioridade nas escolhas, visando equilibrar o nível de competitividade da liga.
Redistribuição de renda (Revenue Sharing): Divide recursos como direitos de transmissão de forma equitativa, um esboço de planejamento centralizado para evitar oligopólios.
Luxury Tax (Taxa de Luxo): Equipes que ultrapassam o limite salarial pagam uma multa que é redistribuída para os times que respeitaram o teto.
Apesar de se assemelhar a lógica socialista, essas medidas não questionam a propriedade privada dos times — pertencentes a bilionários brancos —, nem alteram a relação de exploração entre donos (detentores do capital) e jogadores (força de trabalho assalariada). A “redistribuição” na NBA não visa abolir a acumulação, mas preservar o espetáculo, garantindo lucratividade apenas a todos os investidores, essas medidas são como um airball15 no caminho da redistribuição dos lucros e, é preciso pegar o rebote ou roubar essa bola, assim como “Havlicek stole the ball” (Johnny Most, 1965).
Lenin fundamentou a prática do “centralismo democrático” soviético, assim como a estrutura de governança da NBA conta com uma autoridade central (a diretoria da liga) que impõe normas e regulações uniformes para os seus membros, o NBA Official Rulebook é um documento detalhado que rege todas as regras, violações e procedimentos da liga, tal qual uma constituição. Dentre estes princípios que, conceitualmente, remete à ideia de igualdade promovida por pensadores de esquerda., essa centralização pode ser comparada, de forma abstrata, à centralização de poder defendida em alguns modelos socialistas, em que um órgão coletivo coordena as atividades econômicas e redistribui os frutos do trabalho. Lenin defendia um Estado Proletário centralizado para destruir o poder burguês e reorganizar a economia planificada, em vez de deixar que o mercado livre (oferta e procura) determine a produção, o governo do povo decide o que e como produzir. A diretoria da liga, sob um “centralismo corporativo” opera como um “Politburo esportivo”, impondo regras uniformes (do calendário de jogos às punições disciplinares), assegurando que os interesses coletivos da liga prevaleçam sobre os de times individuais.
Aqui, a centralização não serve aos trabalhadores, nem ao capital esportivo, mas à estabilização do mercado, podemos definir isso como uma “ditadura do capital coletivo” e não a Ditadura Democrática do Proletariado, onde os donos abrem mão de privilégios individuais em prol da saúde financeira do seu monopólio esportivo. Nos modelos de socialismos idealizados por teóricos como Marx e Engels, o foco está na abolição da propriedade privada dos meios de produção e na organização coletiva da sociedade para eliminar a exploração. Já na NBA, embora haja a utilização de conceitos “socialistas”, a propriedade dos times permanece firmemente nas mãos de investidores privados, as regras são decididas por donos e comissários, não por jogadores ou torcedores.
Portanto a NBA funciona numa tecno-burocracia onde o que se vê é uma espécie de “hibridismo”: uma economia de mercado, mas com regras centralizadas que impõem um falso grau de igualdade funcional, nunca rompendo com os fundamentos capitalistas, portanto a NBA é um exemplo de como o capitalismo pode assimilar críticas para se autopreservar. Seus mecanismos redistributivos não surgem de uma ruptura com a propriedade privada, mas de um cálculo de sobrevivência, onde os jogadores são commodities16 que geram mais-valia para a liga.
Para os pensadores de esquerda, isso não seria uma reforma, muito menos revolução. A NBA não questiona a exploração do trabalhadores que vendem sua força de trabalho, pois a trajetória da liga é marcada não apenas por grandes jogadas e campeonatos, mas também por lutas trabalhistas e sociais que moldaram a liga como ela é hoje. Veja só, traçando um panorama histórico, iniciando com os anos 1950, quando a NBA finalmente aceitou jogadores negros, rompendo barreiras raciais, mas falhando em criar estruturas para protegê-los da segregação, não o fazem por serem progressistas, mas sim no intuito de explorar a mão de obra. Jogadores como Earl Lloyd e Chuck Cooper enfrentaram discriminação dentro e fora das quadras, enquanto a liga ignorava suas responsabilidades, por exemplo o caso de Maurice Stokes, astro negro do Rochester Royals (atual Sacramento Kings). Em 1958, uma lesão cerebral encerrou sua carreira, deixando-o incapacitado e sem apoio médico. A NBA não tinha políticas para casos assim, e Stokes dependeu da solidariedade de colegas, como Jack Twyman, para pagar suas contas. Seu drama expôs a falta de proteção aos jogadores, reforçando a necessidade do sindicato. Ideia engendrada em 1954 por Bob Cousy, estrela do Boston Celtics, confrontar essa negligência fundando a National Basketball Players Association (NBPA), o sindicato de jogadores da NBA, para exigir salários dignos, seguro saúde e condições básicas e uma pensão, como um plano de aposentadoria, um benefício vitalício para jogadores da NBA que cumpriram um período mínimo de serviço na liga. A NBPA foi revolucionária, mas enfrentou resistência dos donos de times, que viam a união dos atletas como uma ameaça, a ameaça comunista enfrentada pelo Macarthismo. Nesse contexto, Tom Heinsohn, colega de Cousy nos Celtics, tornou-se uma peça-chave pois era filho de um sindicalista e estudou questões trabalhistas na Universidade Holy Cross e usou esse conhecimento para pressionar a liga.
Vale citar que neste momento todos os jogadores da liga tinham um segundo trabalho Cousy na época considerado o melhor jogador de basquete do mundo ensinava senhoras a dirigir, Heinsohn — além de jogar — trabalhava numa empresas de seguros articulando demandas de benefícios, o que facilitou na hora de articular as demandas dos jogadores. A NBPA, depois liderada por Larry Fleisher, advogado especializado em direito trabalhista, radicalizou as ações. Em 1964, os jogadores, liderados por Heinsohn, ameaçaram greve durante o All-Star Game, com apoio da AFL-CIO (American Federation of Labor and Congress of Industrial Organizations), maior central sindical dos Estados Unidos e Canadá, — equivalente à CUT brasileira (Ha, ha, ha!). A liga, temendo o cancelamento do evento, cedeu: criou um fundo de pensão, garantiu seguro saúde e reconheceu oficialmente o sindicato. Essa vitória histórica não apenas melhorou condições de trabalho, mas ajudou a construir o “produto NBA” contemporâneo.
E as lutas não param por aí, nas décadas seguintes, veio a batalha pela free agency, que permitiu aos jogadores negociar livremente após o fim do contrato. Fleisher foi essencial nessa conquista nos anos setenta, que democratizou o poder nas negociações.
Hoje, os frutos dessas lutas transcendem o esporte. Os jogadores assumiram posturas políticas, usando sua visibilidade para causas como Black Lives Matter que iniciou em 2013, entretanto o assassinato de George Floyd em 2020, pelas mãos da polícia de Minneapolis, catapultou o movimento para um nível de solidariedade e reconhecimento global, com protestos em vários países e quadras. Além disso, outros debates sociais estiveram presentes nas arenas da liga, especialmente durante a pandemia de COVID-19 (época em que voltei para a NBA, e ela foi uma das minhas válvulas de escape da pressão do momento).
A NBA, outrora racista, viu suas estrelas — de Earl Lloyd e Bill Russell à LeBron James e Maya Moore — tornarem-se ícones do debate social, provando que o basquete é também um palco de transformação.
Esse exercício teórico revela uma tensão inerente aos sistemas contemporâneos de organização: Mesmo em ambientes onde impera a lógica do mercado, é possível implementar mecanismos regulatórios que diminuam as disparidades – um conceito que muitos pensadores de esquerda almejavam para uma sociedade mais igualitária e menos liberal. Essa dicotomia entre centralização regulatória e propriedade privada evidencia como não há complexidade em transpor ideias marxistas para práticas socioeconômicas em um mundo globalizado. A regulação dos meios de produção é possível (e necessária), mas sem abolir a propriedade privada, a desigualdade retorna por outras vias, deste modo a NBA ilustra como mecanismos de justiça distributiva podem coexistir com a exploração — desde que sirvam ao status quo. A liga é um laboratório da Social-Democracia Desportiva, onde a “igualdade” é funcional ao lucro, não um fim em si mesma.
Portanto, para que fique claro, guardadas as devidas proporções, há pontos de contato entre os mecanismos da liga para equilibrar a competição e certos princípios discutidos em teorias socialistas, cuja infiltração utiliza-se de mecanismos teóricos propostos por pensadores de esquerda. Mark Fisher, em Realismo Capitalista17 (2020), menciona como a educação pública passou a ser gerida com uma lógica empresarial, com alunos tratados como clientela e seu conhecimento como produto. Professores de educadores tornam-se funcionários onde são submetidos a metas de produtividade, publicações e avaliações quantitativas. Essa lógica de mercado, em vez de melhorar a qualidade, esvazia o sentido crítico do ensino e transforma o conhecimento em uma mercadoria padronizada — uma burocracia revestida de linguagem empresarial, o chamado“Stalinismo de Mercado” (Fisher, 2020):
O que temos não é uma comparação direta dos rendimentos ou desempenhos dos trabalhadores, mas sim uma comparação entre representações auditadas de desempenho ou rendimento. O que o capitalismo tardio repete do stalinismo é justamente a valorização dos símbolos do resultado, em detrimento do resultado efetivo. (Fisher, 2020, p. 75).
Ao adotar mecanismos regulatórios e estatísticas de jogo a NBA se assemelha a um modelo social-democrata que mede seu “sucesso” ao equilibrar competição e cooperação, mas sem questionar a estrutura capitalista que a sustenta. O Stalinismo de Mercado é o movimento do Estado Neoliberal em tratar o trabalho público estatal como uma empresa. Entretanto, neste texto, identificamos que o sistema empresarial das franquias da NBA utiliza-se de instrumentos destinados ao Estado Proletariado para evitar a concentração excessiva de poder e recursos na mão da burguesia branca. Dialogando com a ideia socialista de reduzir desigualdades por meio da redistribuição, podemos dizer que esse movimento é o mesmo do Stalinismo de Mercado. Contudo, em vez de Estado de mercado, temos um Mercado de Estado que mantém as franquias da NBA entre os ativos mais caros do mundo.
A NBA, embora seja um empreendimento capitalista, só funciona porque suprime o livre mercado internamente ao redistribuir a renda para preservar seu status quo, e não para subverter hierarquias. Nesse goaltending18 do Capitalismo no jogo contra o socialismo, os donos das franquias mantêm poder oligárquico, enquanto os jogadores (os trabalhadores, capital esportivo) não possuem controle democrático sobre a liga. Isso reflete o fetichismo do Talento: a NBA celebra seu produto, mascarando a exploração do trabalho e de corpos negros, afinal, 75% da liga é composta por jogadores negros, mas quantos podem ou são donos de times? Além de Michael Jordan, qual outro proprietário majoritário da franquia conhecemos? Jordan foi o único proprietário majoritario negro na história da NBA, adquirindo os Hornets (original) em 2010 e vendendo em 2023, você pode lembrar também de Jay-Z e o Brooklyn Nets, mas o rapper foi socio minotario da franquia, sem voz ativa, enfim, a ausência de donos negros na direção da NBA é um reflexo das desigualdades raciais do pós-colonialismo do capitalismo, e quando se trata de capitalismo e racismo não tem fairplay19 nessa história.
O cartel anticompetitivo, disfarçado sob o discurso de fairplay e paridade competitiva, é superficial. Assim como o sistema de educação se transformam em “fábricas de diplomas”, conforme a análise de Fisher com o Stalinismo de Mercado, a NBA prioriza estatísticas, audiência, engajamento e métricas, enquanto ignora contradições estruturais, com a gentrificação causada por arenas financiadas com dinheiro público (Folha de S. Paulo, 2010), talvez o maior drible seja justamente esse: vender sustentabilidade do espetáculo e manter o capital com a posse da bola.
Este ensaio partiu do basquete como memória afetiva e seu impacto cultural, atravessando a arte cinematográfica do subgênero esportivo, até alcançar uma crítica estrutural da organização da NBA. Fomos do garrafão à crítica cultural, pois o capitalismo é um jogo globalizado e, no fim, o basquete apenas reflete o mundo: um jogo coletivo, tático e desigual. Dessa forma, ao evidenciar que até mesmo um cartel esportivo neoliberal necessita de planejamento central e redistribuição para funcionar, a NBA, neste double-double23 político, torna-se uma alegoria para demonstrar como realismo capitalista identificado por Mark Fisher, a ideologia de que “não há alternativa”, é uma mentira. Se, como afirmou Trotsky, as transformações sociais exigem rupturas com a estrutura vigente, então a NBA, ao depender de práticas anticapitalistas para sobreviver, revela aquilo que o próprio capitalismo tenta negar: alternativas a ele.
Já estamos no overtime e neste longo Losing Streak24 do socialismo em superar a lógica capitalista vemos uma pequena luz, isso é, alternativas existem, resistem e persistem, agora precisamos de um backdoor para superar o constante crossover do capitalismo e eu espero que seja em um belo hang time como o Air Jordan fazia quando os tempos eram mais simples.
Assim como nós você curte basquete e Cinema? Clique no botão pra ver a nossa lista com Uma Curadoria de 100 Filmes Sobre Basquete 🏀 /
REFERÊNCIAS SELECIONADAS/LEITURA ADICIONAL: (Clique para ser direcionado!)
ADORNO, Theodor. Notas de literatura. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1973.
ADORNO, Theodor W. Teoria Estética. tradução de Artur Morão. Lisboa: Edições 70, 1982.
ARATON, Harvey. When the Garden Was Eden: Clyde, the Captain, Dollar Bill, and the Dawn of a New York Dynasty. New York: HarperCollins, 2011.
ARRIA, Michael. NBA Players Wanted Their Rights as Workers. Owners Were Standing in the Way: An Interview With Joshua Mendelsohn. Jacobin, 15 mar. 2023.
BASKETBALL: A LOVE STORY. Dan Klores. My Three Sons Productions. EUA, ESPN Films, 2018.
CAMARGO, Vitor (Two-Minute Warning). Era de Gigantes: A História do Basquete Profissional Norte-Americano no Século XX. São Paulo, 2019.
CELTICS CITY. Lauren Stowell. HBO Sports Documentaries. Estados Unidos: HBO, 2025.
FISHER, Mark. Realismo Capitalista: É Mais Fácil Imaginar o Fim do Mundo do que O Fim do Capitalismo. Tradução de Rodrigo Gonsalves, Jorge Adeodato e Maikel da Silveira. São Paulo: Autonomia Literária, 2020.
FOLHA DE S. PAULO. EUA Usam Verba Pública Para Arenas. Folha de S. Paulo, 13 out. 2010.
LENIN, Vladimir. O Estado e a revolução. 1917. Tradução de Paula Vaz de Almeida. São Paulo: Expressão Popular, 2017.
MACMULLAN, Jackie. Jackie MacMullan speaks with director Dan Klores about Basketball: A Love Story. ESPN, NBA. Mar 14, 2020.
MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. A ideologia alemã. 1846. Tradução de Rubens Enderle; Nélio Schneider. São Paulo: Boitempo, 2007. (Coleção Marx-Engels).
MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. O Manifesto Comunista. 1848. Tradução de Álvaro Pina. São Paulo: Boitempo, 2019.
NA ERA DO GARRAFÃO: O Famoso Draft. Apresentadores: Renan Ronchi e Vitor Camargo. Brasil: Central 3, 21 jun. 2018. Podcast.
NATIONAL BASKETBALL ASSOCIATION (NBA). Official Rules of the National Basketball Association: 2023-24 season. New York: NBA, 2023.
O TEMPO. Negócio bilionário: por que as franquias da NBA são tão caras?. O Tempo, São Paulo. 21 mar. 2025.
POWELL, Michael. A Season on the Rez. The New York Times, Book Excerpt. New York. 6 dez. 2019.
POWELL, Shaun. All-Star Weekend in 1985 Yielded Perfect Springboard for Jordan, Nike. NBA News, Jordan Week. New York. 13 fev. 2019.
SMITH, Sam. The Jordan Rules. New York: Simon & Schuster, 1992.
STAUTH, Cameron. The Franchise: Building a Winner with the World Champion Detroit Pistons, Basketball's Bad Boys. New York: HarperCollins, 1990.
TROTSKY, Leon. Como fizemos a revolução. Trad: de Roberto Goldkorn. São Paulo: Global Editora, 1978. p. 108. (Coleção Bases; v. 7).
UEDA, N. N., & MORALES, L. M. A Presença da Mídia na Socialização Contemporânea dos Jovens: o caso do animé como convite ao estudo da língua japonesa. Estudos Japoneses, 26. 2006. p. 75-96.
Mark Fisher (1968-2017) foi um militante e intelectual que atuou como escritor no blog “K-Punk” (http://k-punk.abstractdynamics.org/). Crítico, teórico cultural e político, também atuou como filósofo e foi professor no Departamento de Cultura Visual em Goldsmiths, Universidade de Londres. Fisher publicou diversos livros, e três deles, Realismo Capitalista, Fantasmas da Minha Vida: Escritos sobre Depressão, Assombrologia e Futuros Perdidos e Desejo Pós-Capitalista: Últimas Aulas foram publicados no Brasil pela Autonomia Literária.
Playoffs: Torneio eliminatório da NBA realizado após a temporada regular, composto por quatro rodadas em séries melhor de sete, para definir o campeão da liga.
NBA All-Star Game: Jogo de exibição anual que reúne os principais jogadores da NBA durante o fim de semana festivo conhecido como All-Star Weekend. Inclui diversas outras competições e eventos de basquete.
Overtime: Prorrogação de cinco minutos disputada em caso de empate no tempo regular; repete-se até que uma equipe vença, pois no basquete os jogos não terminam empatados.
No-Look Pass: Passe feito sem o jogador olhar diretamente para o companheiro que receberá a bola; exige antecipação, confiança e alto nível técnico.
Stats: As estatísticas detalhadas de jogadores, equipes e partidas tornaram-se fundamentais para análises de desempenho e definição de estratégias a partir dos anos 2000, impulsionando mudanças táticas como o aumento do uso dos chutes de três pontos. O NBA Stats é a plataforma oficial de estatísticas da liga (nba.com/stats).
Turnover: Ação em que uma equipe perde a posse de bola para o adversário — por erro de passe, violação ou interceptação — antes de tentar um arremesso válido.
Drible: Ato de quicar a bola no chão com uma ou ambas as mãos alternadamente, permitindo ao jogador mover-se com a posse da bola e tentar superar ou enganar o defensor.
Jump shot: Lance realizado durante um salto, usado para vencer a marcação e aplicar mais força e precisão; É um dos fundamentos do basquete moderno.
Hook shot: Lance em forma de gancho, feito com o jogador de lado para a cesta; usa o corpo para proteger a bola e o braço faz um movimento amplo em arco sobre a cabeça. Foi consagrado por Kareem Abdul-Jabbar, com sua própria versão chamada Skyhook.
Bandeja (layup): Lance, fundamental do basquete, de dois pontos feito próximo à cesta, o jogador direciona a bola com uma das mãos, aproveitando a proximidade do aro, fazendo a bola quicar na tabela e passando pelo aro.
Pick and roll: Jogada ofensiva em que um jogador faz um bloqueio para o companheiro com a bola e, em seguida, se movimenta em direção à cesta para receber o passe ou pegar um rebote; também chamada de screen and roll ou ball screen.
Fast break: Transição rápida da defesa para o ataque, visando pontuar antes da recomposição defensiva adversária; geralmente ocorre após rebote, roubo de bola ou toco.
Winning Streak (Sequência de vitórias): É a série de jogos vencidos consecutivamente por uma equipe, servindo como indicador de bom desempenho e regularidade.
Airball: Lance que não toca o aro, a tabela nem a rede, resultando num erro total.
Commodities: São produtos primários, geralmente em estado bruto ou com pouca industrialização, que são produzidos em larga escala e comercializados internacionalmente. No contexto da NBA os jogadores são tratados como ativos de mercado, avaliados e explorados economicamente pela liga, funcionando como “commodities” que geram valor dentro da lógica capitalista.
Realismo Capitalista (2020), livro de Mark Fisher, desenvolve o conceito homônimo para descrever a ideologia que naturaliza o capitalismo como a única alternativa socioeconômica viável, invisibilizando propostas alternativas e perpetuando a resignação coletiva. Fisher define o fenômeno como uma “atmosfera penetrante” que condiciona cultura, trabalho e subjetividade, moldando percepções para inviabilizar a imaginação de futuros pós-capitalistas. Publicado no Brasil pela Autonomia Literária, a obra analisa exemplos da cultura pop, da depressão generalizada e da estagnação neoliberal, relacionando-os à incapacidade de contestar as estruturas hegemônicas.
Goaltending: É uma violação cometida ao interferir ilegalmente em um arremesso que está descendente e a caminho da cesta, dentro de um cilindro imaginário acima do aro; pode ser cometida por jogadores da defesa ou do ataque.
Fair play (jogo limpo): Conduta baseada no respeito às regras, adversários e árbitros, promovendo competição honesta e evitando atitudes antidesportivas dentro e fora da quadra.
Backdoor: Movimento ofensivo em que o jogador corta repentinamente para a cesta pelas costas do defensor, aproveitando sua distração ou excesso de pressão na marcação, para receber um passe e finalizar a jogada.
Crossover: Drible rápido em que o jogador troca a bola de mão, geralmente da frente do corpo, para enganar o defensor e mudar de direção bruscamente, criando espaço para avançar ou arremessar.
Hang time: Tempo que um jogador permanece no ar após saltar em uma enterrada; associado à impulsão, controle corporal e efeito visual do lance.
Double-double: Desempenho em que um jogador atinge ou ultrapassa 10 em duas categorias estatísticas (pontos, rebotes, assistências, roubos ou bloqueios) em um único jogo, indicando atuação consistente.
Losing streak: Sequência de derrotas consecutivas de uma equipe, usada para indicar um período de desempenho negativo em jogos sucessivos.