Labirinto: A Magia do Tempo - Para o Fim da Infância
“O caminho adiante, às vezes é o caminho para trás”
Sinopse: Neste pequeno artigo Chuck, estabelece uma ligação entre o filme e a experiência pessoal, reafirmando a ideia de que a infância não desaparece — ela apenas se transforma.
Para o Fim da Infância - Labirinto: A Magia do Tempo
O caminho adiante, às vezes, é o caminho para trás; em alguns momentos, quando estou em uma sinuca, em um empasse ou, basicamente, quando preciso resolver algo, percebo que me vejo pensando na infância, lembrando das coisas que gostava na época — e, pasmem, algumas ainda gosto.
Lembro-me também daquele momento de transição entre a infância e a adolescência, que é sempre muito difícil, seja você menino, menina ou duende. Este é o período em que aprendemos a usar a frase “ISSO É COISA DE CRIANÇA” e foi, mais ou menos, nesse tempo que vi Labirinto: A Magia do Tempo (1986), filme britânico-americano de fantasia com o maior número de closes indiretos em pênis do que qualquer outro; foi dirigido por Jim Henson (de O Cristal Encantado) e produzido por George Lucas (de Howard: O Pato ;p ). No elenco, temos David Bowie (de O Homem que Caiu na Terra) e Jennifer Connelly (de Água Negra). Se você não sabe de qual filme estou falando, é porque é muito jovem, não teve infância ou ambos, devido à conjuntura do momento.
Labirinto – A Magia do Tempo foi rodado quatro anos antes de meu nascimento e não envelheceu um segundo sequer. Ao rever o filme, tive a sensação de que ele foi um teste para os animatrônicos da série A Família Dinossauro (1991 - 1995) e dos filmes Tartarugas Ninja (1990). Mas, apesar de ser bom, bem feito e cultuado, o filme não teve uma boa aceitação do público em sua estreia; dizem até que esse foi o motivo para Jim Henson nunca mais ter dirigido outra película. Isso, ao meu ver, foi uma tragédia, pois a execução técnica do filme é impecável — os puppets realmente parecem estar vivos. O único ponto negativo do longa é a mísera cena em que a protagonista interage com alguns bonecos que arrancam a própria cabeça, o problema não é a animação dos bonecos, mas sim o estilo utilizado para a captura do movimento, pois força a captura da cena em chroma key1, que ficou com um recorte horrível, assim como toda a infância também tem aquele momento horrível...
Quando pensamos na infância, percebemos que ela é mais do que apenas um substantivo feminino; ela refere-se a um período de desenvolvimento do ser humano, é a meninice, é o tempo em que estamos cercados de coisas lúdicas. O mundo criado por Jim Henson é muito lúdico; ele te absorve e te leva, juntamente com sua protagonista, por um universo fantástico e extremamente criativo. As suas referências estão na cara: logo no início do filme, os livros na estante dão uma deixa do que está por vir. Aliás, todos os personagens que aparecem no filme estão representados no quarto de Sarah, a protagonista — tente achar esses easter eggs2.
O filme tem início quando algumas palavras cruéis são ditas sem pensar e geram consequências inimagináveis para uma jovem garota que acaba enfrentando muitos perigos em um labirinto fantástico. Nessa história, temos David Bowie, que, apesar de vestir uma roupa de estilo bem duvidoso, não perde o brilho nem o talento, pois, mesmo havendo pouco exigência do personagem, ele entrega uma boa atuação como nosso antagonista. Já Jennifer Connelly supera as adversidades de interpretar ao interagir com bonecos e demonstra, na medida certa, todo o seu potencial.
Muitos poderão dizer que O Labirinto é coisa de criança, mas, em verdade, vos digo: é um dos poucos filmes que pode reunir toda a família, sem distinção de idade, além de ser um dos filmes mais lisérgicos que já vi. Um exemplo dessa lisérgica é um dos personagens que mais gosto: um cachorro antropomorfizado, vestido de mosqueteiro, que tem por montaria outro cachorro — é um cão montando outro cão, o que é extremamente divertido. Mas o longa não se resume apenas à diversão; podemos lançar sobre ele diversos olhares críticos, analisando-o de várias formas e a partir de muitos pontos de vista diferentes. Contudo, o que mais me marcou foi, ao final da exibição, perceber que o filme todo é uma transição da infância para a adolescência. Ao final da narrativa, nossa protagonista confronta um dilema: ela passou por sua jornada, transformou-se conforme o roteiro exigia, e, agora, transformada, tem a oportunidade de continuar sua caminhada, deixando para trás as coisas de criança. E, no calor da emoção, ela não opta por abandonar sua essência, o que, paradoxalmente, não anula toda a sua jornada, pois foi essa transformação que lhe permitiu fazer sua escolha — e assim, Lancelot teve sua utilidade como ponto de virada.
O filme nos ensina que nada tem poder sobre nós, exceto nós mesmos! Então, não perca sua infância, ou, se já a perdeu, tente restabelecer contato com ela, pois a infância vive para sempre, embora o "para sempre" muitas vezes não seja muito tempo, já que nada é o que parece ser, entende?
A infância não desaparece — ela apenas se transforma.
Assista: Labirinto - A Magia do Tempo
Chroma key é um recurso que permite a substituição de uma cor sólida (no caso, o verde ou azul) por outra imagem na edição de um filme. Um tecido, lona ou parede nas cores são os mais utilizados.
Easter egg é literalmente “ovo de páscoa” e refere-se a uma mensagem, imagem ou recurso oculto inserido intencionalmente pelos criadores do filme. É uma forma de surpresa ou piada interna que pode ser descoberta pelos espectadores.