Sinopse: Neste texto Chuck tece uma reflexão sobre a vida adulta e o fatídico momento da vida em que de repente 30.
O Que Você Vai Ser Quando Crescer? — De repente Trinta
Há algum tempo, presenciei meu retorno de Saturno. Esse fenômeno astrológico é visto como o momento de alcançar a vida plena e encarar desafios e responsabilidades. Na prática, porém, trata-se apenas do trânsito do planeta Saturno retornando à posição que ocupava no céu no momento do meu nascimento. Apesar de não crer nisso, admito que a frustração me atingiu: no último ano, antes dos trinta, todos os meus planos deram errado. É angustiante perceber como nunca estamos preparados para a decepção. E pior: imaginar a decepção de Saturno ao ver a pessoa que me tornei. Um pobre punk, latino-americano, sem dinheiro no banco, sem parentes importantes e vindo do interior. Cheguei a pensar se meu “eu jovem” se orgulharia do que se transformou, mesmo não sendo nada do que ele imaginara.
“O que você vai ser quando crescer?”
Era a pergunta que algum panaca sempre me fazia na infância. Eu respondia: professor, cineasta ou jornalista. No fundo, porém, queria ser piloto rebelde de um X-Wing, um cara inteligente picado por uma aranha radioativa ou uma Paquita. Não era ingênuo: sabia que Paquita estava fora de questão — não nasci branca, nem loira. Quem nunca fantasiou sobre a vida adulta? O que estaríamos fazendo aos trinta? Seríamos adultos respeitados? Teríamos viajado por todos os continentes? Teríamos um carro legal, uma casa enorme e uma profissão descolada?
Enquanto imaginávamos... pimba! De repente, TRINTA.
Tal como no filme De Repente 30 (2004), um ícone dessa época sonhadora e ingênua que todos vivemos. Apesar da aparência leve, o longa tem um teor crítico sobre os limites para realizar nossos sonhos. Dirigido por Gary Winick de A Menina e o Porquinho (2006) e escrito por Cathy Yuspa de Do Que as Mulheres Gostam (2000) — e roteirista da série de TV Os Super Patos), o elenco traz Jennifer Garner de A Justiceira (2018) — e a série Alias (2001–2006), Mark Ruffalo de Ilha do Medo (2010), Judy Greer de Três Reis e Andy Serkis de O Senhor dos Anéis 3 (2003) — que vi aos treze anos num cinema de rua).
De Repente 30 é simples e não inova, repetindo fórmulas de Quero Ser Grande (1988) e Sexta-Feira Muito Louca (2003 e suas outras três versões). Mesmo assim, diverte com entretenimento de qualidade e uma pitada crítica. Acompanhamos Jenna Rink, que, insatisfeita com a vida, no décimo terceiro aniversário faz um pedido: virar adulta.
E, de repente, ela acorda com trinta anos, a idade do sucesso.
Aos trinta, os quadris se alargam, as dores chegam, e vão-se os anos surfando karmas e DNA. Não vivi muito do que sonhei, mas, se soubesse antes o que sei agora, faria tudo exatamente igual. Cada escolha que fiz me trouxe até aqui e me moldou. E, apesar dos pesares, estou feliz. Conquistei muito, não só para mim, mas para minha família — bens materiais e espirituais, coisas que tivemos e perdemos. Mudei-me para São Paulo com cem reais no bolso; hoje tenho casa, amigos e um trabalho que paga minhas contas, vícios e lazer — se é que vício não se enquadra em lazer, não é?
No filme, Jenna inicialmente se assusta, mas se encanta ao tornar-se o que sempre sonhou. Contudo, ao tentar reencontrar Matt, descobre ter perdido o que realmente importava. A vida adulta é cheia de artifícios para nos transformar em adultos mesquinhos, amargos e fúteis, nos afastando de pessoas e coisas das quais gostamos, a rotina, o trabalho e escolhas mal feitas, se transformam em um vazio interno. E nesse amontoado de sentimentos o longa vem com a aquela clássica metáfora cafona, com a mentalidade de treze anos e corpo de trinta, a garota passa a tomar as atitudes “certas” e reverter à situação adversa, mas apesar de cafona essa metáfora é muito interessante, pois com trinta anos Jenna deveria estar mais preparada, porém, no filme, a criança que era é quem faz as coisas acontecerem, talvez por não ter traumas suficientes.
Abandonei a faculdade em Ciências Sociais ( é, não era jornalismo, mas fiz letras, entretanto essa é outra história), deixei a boemia — por ora, para manter a saúde. Como diz a canção: “Eu ando só, pois só eu sei de onde vim, por onde andei, ando só nem sei por que”. Até minhas convicções políticas da adolescência mudaram: a anarquia e a doce utopia deram lugar ao comunismo científico. Por um momento, senti decepção — tanto do meu “eu jovem” quanto de Saturno, que me viu nascer. Mas tanto faz.
O filme retrata esse turbilhão de sentimento de forma cômica. Revendo-o, percebi que escapei dessa armadilha — uma vitória. Aos trinta, meu foco foi iniciar uma graduação que não destruísse meu psicológico como a anterior. E, embora não seja jornalista, já escrevi para revistas, jornais, blogs e sites. Talvez não viva da literatura, mas publiquei um livro e dirigi um curta-metragem com amigos. Além disso, retornei à militância política, hoje mais necessária do que nunca.
Já vislumbrando a crise da meia idade, acredito ter vivido minha vida de forma boa, essa corrida sem sentido rumo ao nada, a qual eu fiz com estilo até então e quero continuar assim por mais trinta, além, claro, de agradecer a todos os envolvidos nela, se você leu isso até aqui obrigado e assista ao filme. Enfim só queria desabafar, espero ter orgulho de mim daqui a trinta anos assistindo filmes, tendo uma casa legal e vivendo das coisas que a natureza dá!
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